Se fosse possível atribuir uma idade ao Ultrarromantismo, ele seria um adolescente.
Isso porque se perceberia uma mente infantil, que quer tudo, na hora desejada, no local
em que se consolida a urgência e na intensidade máxima possível, dentro de um corpo de
um adulto, que viabiliza a realização de tantos quereres. Ainda bem que tudo isso fica na
adolescência, não é mesmo? Imagine viver nessa velocidade a vida inteira? Afinal, tornar-
se adulto é aprender a domesticar o desejo. Pois é, muita gente não se propõe a isso. Hajam
visto os escritores românticos do século XIX: transformaram o desregramento em objeto de
apreciação estética.
Foi com essa atmosfera que o grupo Liquidificador preparou um drink delicioso. O
ponto de partida para o espetáculo “Ultrarromântico” é a obra de Álvares de Azevedo, “Noite
na Taverna”, que fornece à montagem uma sustentação poética e uma aura de “tempos
antigos”, sem, contudo, engessar o trabalho da equipe. Esta se lançou no desafio de adaptar
algumas partes da obra para uma linguagem mais atual, tornando-a mais palatável, sem,
entretanto, tirar do público a possibilidade saborear a ambientação original da obra.
Todo o aparato cênico ajudou a elaborar ante aos olhos dos espectadores a expressão
máxima de todo o lado mais dionisíaco do ser humano. Afinal, realizar um espetáculo no
subsolo do Conic, com um figurino punk, cigarros, bebidas e cenas inteiras passadas em
cima ou no interior de um container de lixo é trabalho de muita entrega. Aliás, os atores se
mostraram muito capazes tanto na construção/desconstrução do texto de Azevedo, quanto
na proposição de ações cênicas que evidenciaram com clareza a compreensão da tônica
do movimento literário romântico: a liberdade. Na medida certa, sem cair no mau gosto,
protagonizaram cenas que não eram homoeróticas: as mulheres que se tocavam e os homens
que se beijavam não eram, na verdade, homens e mulheres, e sim, corpos entregues à lascívia.
Ponto para o grupo, que apimentou a composição sem torná-la difícil de digerir.
Para tornar a ação ainda mais concreta aos espectadores, o espetáculo continua
quando termina. Uma festa se desenvolve no próprio ambiente cênico e com a equipe. Se se
tornar adulto é aprender a domesticar os desejos, creio que voltei à adolescência no último
fim de semana, pois não estou controlando minha vontade de que chegue novamente o
sábado para que eu possa tomar outro drink com o pessoal do Liquidificador. “Taverneira!
Traga-me mais vinho!” Cheers, my friends!
Mônica Vieira Braga
licenciada em Língua Portuguesa e respectivas Literaturas pela UnB
professora de literatura há 12 anos na rede privada do DF
licenciada em Língua Portuguesa e respectivas Literaturas pela UnB
professora de literatura há 12 anos na rede privada do DF
Porra, Moniquinha!!!! Arrasou!!! Disse tudo e mais um pouco! Euu também estarei lá hoje! Beijo!
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