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domingo, 1 de abril de 2012

Queer is the new punk

Queer é uma identidade definida contra a dominação hetero-monogâmica-patriarcal-branca e também uma identidade que se aproxima com aquelas pessoas que estão marginalizadas e oprimidas. Queer representa sexualidades e gêneros, mas também muito mais. Queer é a resistência ao regime do "normal". Em sociedades em que até o uso de banheiros é motivo de segregação humana (veja o vídeo do Laerte), é preciso pensar para onde estão indo as lutas por direitos sociais.

Punk e questões de gênero
A rejeição do sexismo pelo movimento punk é uma batalha contínua para educar aqueles que nela entram com suas imagens estereotipadas ainda intactas. Muitos punks se posicionaram contra o especismo, o racismo, a proliferação nuclear etc. apenas para se contradizerem ao praticar ou aceitar o sexismo. Embora as bandas frequentemente recebam severas críticas por usar imagens ou letras sexistas em seus discos, esse é um problema pequeno, mas consistente. Os fanzines e os distribuidores punks de vez em quando deparam com o fato de ter que recusar discos ou anúncios contendo imagens ou letras declaradamente sexistas. Não há como negar que o sexismo existe dentro da comunidade punk, mas isso ocorre num nível menor do que na sociedade em geral e, mais importante, é desencorajado e condenado por muitos participantes ativos, ao contrário do que ocorre na sociedade comum, onde ele é raramente condenado ou mesmo discutido, a não ser pelas feministas. Em vez de lidar com as atitudes negativas similares às da sociedade comum, é mais produtivo debater as opiniões da maioria dos punks ativistas que se declaram anti-sexistas.

Muitos punks gays acham que o movimento gay foi cooptado e é basicamente inexpressivo. "O movimento gay como é hoje é uma grande farsa e nós não temos nada de bom para dizer a respeito..." (funzine homocore #7) Os punks homossexuais, porém, têm muitas coisas ruins para dizer. Contrastando com uma visão da igualdade sexual, há a misoginia velada presente na cultura gay "que privilegia a cultura das bichas (masculino) em detrimento das lésbicas (feminino)" (idem) . É estranho ver um domínio masculino presente no campo das relações de mesmo sexo, mas uma visita a livrarias, bares e atividades dirigidas por gays de qualquer cidade grande irá mostrar que o masculino é que age como foco principal.


Queer Culture
Queer é um termo reclamado. Seu uso contemporâneo é para descrever gêneros e sexualidades que não se conformam com a sociedade heteronormativa.  A maioria das pessoas entendem queer como sinônimo de GLBT. Este entendimento falha em analisar a experiência de pessoas queer. 
Queer não é uma área estabelecida, queer não é uma identidade que faz parte de uma lista de categorias sociais corretas e aceitas. A normalidade é a tirania da condição queer. A normalidade é violentamente imposta a cada dia, a cada hora. A normalidade é a miséria e a opressão. A normalidade é o Estado, é o capitalismo. É o colonialismo e o império. É a brutalidade. É violação. A normalidade é cada forma em que limita a identidade ou faz aprender a odiar os próprios corpos.
Este discurso queer, é sobre a luta contra a normalidade. Para o queer significa guerra social. E quando falam de queer como um conflito contra toda a dominação, o falam seriamente.

O normal, o heterossexual, a família comum, estes exemplos sempre foram construídos em oposição a eles. Heterossexual não é queer. Saudável não tem HIV. Homem não é mulher. Os discursos da heterossexualidade, o patriarcado, o capitalismo se reproduzem a si mesmos como um modelo de poder. Para o resto da sociedade só há morte.

Nas ruas um "maricas" é espancado porque sua representação de gênero é muito feminina. A um pobre homem transexual que não consegue o dinheiro para seus hormônios salva vidas. Trabalhadores/as sexuais são assassinados por seus clientes. Um genderqueer é violada porque necessitava "ter sexo heterossexual". Mulheres lésbicas são encarceradas por defender-se contra homens heterossexuais que as agridem. A polícia os brutaliza nas ruas.

Queers experimentam, diretamente com seus próprios corpos a violência e a dominação deste mundo. Teem seus corpos e desejos roubados.

A perspectiva queer dentro do mundo heteronormativo é a que os permite criticar e atacar o aparato capitalista. Eles podem analisar as formas em que a medicina, a igreja, o Estado, o matrimônio, os meios de comunicação, as fronteiras, o exército e a polícia são usados para os controlar e destruir. E ainda mais importante, podem usar estes casos para articular um criticismo coeso de todas as formas em que são alienados/as e dominados/as.

A posição queer é uma posição onde se ataca o normal. E é desde esta posição que a história dos queers organizados tem tomado sua forma. Os/as mais marginalizados - pessoas trans, pessoas de cor, trabalhadores/as sexuais - sempre tem sido a base das chamas da resistência militante queer. Esta resistência tem sido acompanhada pela análise radical que afirma que a liberação queer está amarrada com a aniquilação do Estado e do capitalismo.

Se a história prova algo, é que o capitalismo tem uma tendência de pacificar os movimentos sociais. Isto, trabalha simplesmente. Um grupo ganha privilégio e poder dentro do movimento e pouco depois, traem seus companheiros/as. Alguns anos depois dos distúrbios de Stonewall, homens gays brancos e de classe média marginalizaram toda a gente que havia feito seu movimento possível e abandonaram a revolução.

Antes, se queer era estar em conflito direto com as forças de dominação. Agora os toca enfrentar ao estancamento total e a esterilidade. Como sempre, o capital transformou trans que atiravam pedras nas ruas em políticos e ativistas bem vestidos. Há gays republicanos e democráticos. Há países onde até há bebidas energéticas "gay" e canais de televisão "queer" que fazem a guerra mental, com o corpo e a autoestima da juventude. O estabelecimento político "GLBT" converteu-se numa força de assimilação, gentrificação e do poder estatal e capital. A identidade gay se converteu em um produto, uma comodidade e um aparato que funciona para retirar-se da luta contra toda a dominação.                                                                    




Agora já não criticam nem o matrimônio, nem o exército, nem o capitalismo, nem ao Estado. Há campanhas para a assimilação queer dentro de cada uma. Suas políticas apóiam todas as instituições que reinformam a heteronomatividade, em vez de buscar a aniquilação daquelas. "Gays podem matar pessoas pobres da mesma forma que pessoas heterossexuais!" Gays podem ter reinos de capital e poder igual as pessoas heterossexuais!" "Somos iguais a vocês!"

Assimilacionistas buscam nada menos que construir o homossexual como o normal - rico, monogâmico, carros luxuosos, residências privadas. Esta construção, claramente reproduz a estabilidade da heterossexualidade, o patriarcado, o binário de gênero, o capitalismo.

Se nós realmente queremos destruir esta normalidade, necessitamos tomar uma posição firme. Não necessitam da inclusão ao matrimônio, nem do exército, nem do Estado. Tem-se que destruí-los. Não mais políticos/as, nem chefes, nem policiais gays. Necessitam separar as políticas de assimilação e as políticas de libertação.

Necessitam reencontrar a sucessão como queer anarquistas descontrolados/as. Necessitam destruir estas construções da normalidade, e ao invés, criar posições baseadas em suas contrariedades a esta normalidade, uma alternativa capaz de desmantelá-la. Necessitam usar esta posição para instigar rupturas, não só destas políticas de assimilação, mas do capitalismo em si mesmo.

Estes corpos nasceram em conflito com a ordem social, tem que aprofundar este conflito e fazer com que se espalhe.

Deve-se criar um espaço onde é possível desejar. Este espaço, obviamente, requer conflito com a ordem social. Para desejar, em uma sociedade estruturada para confinar o desejo, é uma tensão que vivem diariamente.

Este terreno, que nasce na ruptura, deve desafiar a opressão em sua integridade. Isto significa a negação total ao mundo. Devem voltar os corpos em rebeldia. Podem apreender a fortaleza de seus corpos em rebeldia para criar o espaço para seus desejos. No desejo encontrarão o poder para destruir o que os destrói. Tem que estar em conflito com o regime do normal.

Este artigo é uma adaptação e tradução do panfleto "Towards the queerest insurrection”


  




Kenneth Anger, John Waters, Divine e outros

Kenneth Anger é um cineasta undergroud, célebre por seus filmes experimentais que envolvem temas como homoxessualismo, ocultismo e cultura pop. É de grande influência na cultura queer. Influenciou também cineastas como Martin Scorsese e David Lynch. É considerado por muitos críticos como um fetichista.

 

John Waters teve destaque na contracultura dos anos 70 com seus filmes cult transgressivos. Uma de suas "atrizes fetiches" era a travesti Divine, que participa de grande parte de seus filmes. John trabalhou também com criminosos convíctos e atrizes pornôs em suas películas. 

Rainer Werner Fassbindes tem mais de 40 filmes que falam sobre sedução, rebeldia gay, lealdade e dominação. Os temas fortes, a estética kitsch, o mundo gay e as aterradoras interpretações dos atores conquistaram o mundo. Curiosamente foi um precursor da cultura do couro.

Queercore 
Militância, movi­mento punk e peso. De fan­zi­nes obs­cu­ros a influên­cia na cena alter­na­tiva, a his­tó­ria do movi­mento único no gueto
Por Breno Soares
 
Em tem­pos de liber­dade de expres­são, onde a mídia mos­tra o que deseja mos­trar, onde os jor­na­lis­tas pro­tes­tam e onde a cen­sura já não é tão forte quanto na época da dita­dura, vemos tan­tos movi­men­tos sur­gi­rem quanto pes­soas podem criá-los.
A música como ins­tru­mento de pro­testo, tanto quanto de pra­zer não pode­ria ficar de fora. Desconhecido por mui­tos, o Queercore é um movi­mento com pou­cos expo­en­tes de sucesso como Marilyn Manson, que por razões de mer­cado caiu fora desse. Outros mais obs­cu­ros ves­tem a camisa e batem no peito.
O Queercore é filho do punk, um braço do estilo que resol­veu cami­nhar pelas ruas gays da música. Protesta, grita, é pesado e mui­tas vezes sujo como punk, mas gay em suas letras e atitudes.
Considerado mais que ape­nas um movi­mento musi­cal, o Queercore é con­si­de­rado um movi­mento social e cul­tu­ral que teve iní­cio em mea­dos da década de 80 e mesmo sendo um movi­mento gay, pre­fe­riu (ou foi obri­gado) a ficar afas­tado das rodas gays e lés­bi­cas da época.
 Mesmo tendo sur­gido do punk, o movi­mento com­pre­ende atu­al­mente artis­tas em outros gêne­ros musi­cais como: hard­core punk, synth­punk, indie rock, power pop, no wave, noise, expe­ri­men­tal, indus­trial, etc. Pois ser Queercore hoje em dia é muito mais que fazer punk gay e sim ter a ati­tude do grupo. 
 

 
 God Is My Co-Pilot; Team Dresch; Fifth Column; NUCLEAR FAMILY; Sister George 

Inicialmente cha­mado de Homocore, os pri­mei­ros gri­tos do movi­mento foram ouvi­dos por um zine cana­dense, de Toronto, fun­dado por G.B. Jones e co-publicado por Bruce LaBruce, o J.D.s Este é con­si­de­rado o iní­cio do movi­mento. Teve oito publi­ca­ções de 1985 até 1991.
A coisa pegou mesmo quando depois das pri­mei­ras edi­ções do J.D.s. Os edi­to­res escre­ve­ram um mani­festo enti­tu­lado “Não seja gay”, mesmo nome de um artigo ori­gi­nal­mente lan­çado em outro fan­zine da época, Maximum RocknRoll. O artigo foi lan­çado pelo Maximum em Fevereiro de 1989 e ata­cava tanto a cul­tura punk quanto a cul­tura gay.
O J.D.s res­pon­deu com esse mani­festo e logo em seguida lan­çou um fita com os nomes mais expo­en­tes do Queercore, como as ban­das cana­den­ses Fifth Column e Nikki Parasite, a ame­ri­cana Bomb, as ingle­sas The Apostles, Academy 23 e No Brain Cells além da Gorse, da Nova Zelândia. Nessa época mui­tas ban­das da cena esta­vam levando o título de Queercore, muito mais pelo seu suporte ao movi­mento, e não neces­sa­ri­a­mente ban­das de gays. Depois Los Crudos e Go! vie­ram a engros­sar a lista, mas desta vez tendo algum mem­bro queer ou gay assumido.
“(…) Talvez a defi­ni­ção esteja base­ada mais na expres­são indi­vi­dual, mas dizem que é o tipo de coisa que você reco­nhece quando vê. Ao invés de ten­tar cate­go­ri­zar e defi­nir, as pes­soas ten­dem a se jun­tar a ele, exa­ta­mente por sua diver­si­dade, por ser inte­res­sante e pelas pos­si­bi­li­da­des a serem desen­vol­vi­das a par­tir do con­ceito ori­gi­nal. Muitas pes­soas optam por usar o termo que­er­core pra se afas­tar das ima­gens tra­zi­das pela asso­ci­a­ção com o movi­mento punk, e para incluir tanto os punks gays como todas as outras coi­sas que refle­tem suas idéias básicas (…).”
revista Oasis.


Funzine  Queercore

Este foi o fanzine que inaugurou o movimento Queercore. (estas são algumas das páginas)










































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