Punk e questões de gênero
A rejeição do sexismo pelo movimento punk é uma batalha contínua para educar aqueles que nela entram com suas imagens estereotipadas ainda intactas. Muitos punks se posicionaram contra o especismo, o racismo, a proliferação nuclear etc. apenas para se contradizerem ao praticar ou aceitar o sexismo. Embora as bandas frequentemente recebam severas críticas por usar imagens ou letras sexistas em seus discos, esse é um problema pequeno, mas consistente. Os fanzines e os distribuidores punks de vez em quando deparam com o fato de ter que recusar discos ou anúncios contendo imagens ou letras declaradamente sexistas. Não há como negar que o sexismo existe dentro da comunidade punk, mas isso ocorre num nível menor do que na sociedade em geral e, mais importante, é desencorajado e condenado por muitos participantes ativos, ao contrário do que ocorre na sociedade comum, onde ele é raramente condenado ou mesmo discutido, a não ser pelas feministas. Em vez de lidar com as atitudes negativas similares às da sociedade comum, é mais produtivo debater as opiniões da maioria dos punks ativistas que se declaram anti-sexistas.
Muitos punks gays acham que o movimento gay foi cooptado e é basicamente inexpressivo. "O movimento gay como é hoje é uma grande farsa e nós não temos nada de bom para dizer a respeito..." (funzine homocore #7) Os punks homossexuais, porém, têm muitas coisas ruins para dizer. Contrastando com uma visão da igualdade sexual, há a misoginia velada presente na cultura gay "que privilegia a cultura das bichas (masculino) em detrimento das lésbicas (feminino)" (idem) . É estranho ver um domínio masculino presente no campo das relações de mesmo sexo, mas uma visita a livrarias, bares e atividades dirigidas por gays de qualquer cidade grande irá mostrar que o masculino é que age como foco principal.
Queer Culture
Queer
é um termo reclamado. Seu uso contemporâneo é para descrever gêneros e
sexualidades que não se conformam com a sociedade heteronormativa.
A
maioria das pessoas entendem queer como sinônimo de GLBT. Este entendimento
falha em analisar a experiência de pessoas queer.
Queer não é
uma área estabelecida, queer não é uma identidade que faz parte de uma lista de categorias sociais corretas e aceitas. A
normalidade é a tirania da condição queer. A normalidade é violentamente
imposta a cada dia, a cada hora. A normalidade é a miséria e a
opressão. A normalidade é o Estado, é o capitalismo. É o colonialismo e o
império. É a brutalidade. É violação. A normalidade é cada forma em que
limita a identidade ou faz aprender a odiar os próprios corpos.
Este
discurso queer, é sobre a luta contra a normalidade. Para o queer
significa guerra social. E quando falam de queer como um conflito contra toda
a dominação, o falam seriamente.O normal, o heterossexual, a família comum, estes exemplos sempre foram construídos em oposição a eles. Heterossexual não é queer. Saudável não tem HIV. Homem não é mulher. Os discursos da heterossexualidade, o patriarcado, o capitalismo se reproduzem a si mesmos como um modelo de poder. Para o resto da sociedade só há morte.
Nas ruas um "maricas" é espancado porque sua representação de gênero é muito feminina. A um pobre homem transexual que não consegue o dinheiro para seus hormônios salva vidas. Trabalhadores/as sexuais são assassinados por seus clientes. Um genderqueer é violada porque necessitava "ter sexo heterossexual". Mulheres lésbicas são encarceradas por defender-se contra homens heterossexuais que as agridem. A polícia os brutaliza nas ruas.
Queers experimentam, diretamente com seus próprios corpos a violência e a dominação deste mundo. Teem seus corpos e desejos roubados.
A perspectiva queer dentro do mundo heteronormativo é a que os permite criticar e atacar o aparato capitalista. Eles podem analisar as formas em que a medicina, a igreja, o Estado, o matrimônio, os meios de comunicação, as fronteiras, o exército e a polícia são usados para os controlar e destruir. E ainda mais importante, podem usar estes casos para articular um criticismo coeso de todas as formas em que são alienados/as e dominados/as.
A posição queer é uma posição onde se ataca o normal. E é desde esta posição que a história dos queers organizados tem tomado sua forma. Os/as mais marginalizados - pessoas trans, pessoas de cor, trabalhadores/as sexuais - sempre tem sido a base das chamas da resistência militante queer. Esta resistência tem sido acompanhada pela análise radical que afirma que a liberação queer está amarrada com a aniquilação do Estado e do capitalismo.
Se a história prova algo, é que o capitalismo tem uma tendência de pacificar os movimentos sociais. Isto, trabalha simplesmente. Um grupo ganha privilégio e poder dentro do movimento e pouco depois, traem seus companheiros/as. Alguns anos depois dos distúrbios de Stonewall, homens gays brancos e de classe média marginalizaram toda a gente que havia feito seu movimento possível e abandonaram a revolução.
Antes, se queer era estar em conflito direto com as forças de dominação. Agora os toca enfrentar ao estancamento total e a esterilidade. Como sempre, o capital transformou trans que atiravam pedras nas ruas em políticos e ativistas bem vestidos. Há gays republicanos e democráticos. Há países onde até há bebidas energéticas "gay" e canais de televisão "queer" que fazem a guerra mental, com o corpo e a autoestima da juventude. O estabelecimento político "GLBT" converteu-se numa força de assimilação, gentrificação e do poder estatal e capital. A identidade gay se converteu em um produto, uma comodidade e um aparato que funciona para retirar-se da luta contra toda a dominação.
Agora já não criticam nem o matrimônio, nem o exército, nem o capitalismo, nem ao Estado. Há campanhas para a assimilação queer dentro de cada uma. Suas políticas apóiam todas as instituições que reinformam a heteronomatividade, em vez de buscar a aniquilação daquelas. "Gays podem matar pessoas pobres da mesma forma que pessoas heterossexuais!" Gays podem ter reinos de capital e poder igual as pessoas heterossexuais!" "Somos iguais a vocês!"
Assimilacionistas buscam nada menos que construir o homossexual como o normal - rico, monogâmico, carros luxuosos, residências privadas. Esta construção, claramente reproduz a estabilidade da heterossexualidade, o patriarcado, o binário de gênero, o capitalismo.
Se nós realmente queremos destruir esta normalidade, necessitamos tomar uma posição firme. Não necessitam da inclusão ao matrimônio, nem do exército, nem do Estado. Tem-se que destruí-los. Não mais políticos/as, nem chefes, nem policiais gays. Necessitam separar as políticas de assimilação e as políticas de libertação.
Necessitam reencontrar a sucessão como queer anarquistas descontrolados/as. Necessitam destruir estas construções da normalidade, e ao invés, criar posições baseadas em suas contrariedades a esta normalidade, uma alternativa capaz de desmantelá-la. Necessitam usar esta posição para instigar rupturas, não só destas políticas de assimilação, mas do capitalismo em si mesmo.
Estes corpos nasceram em conflito com a ordem social, tem que aprofundar este conflito e fazer com que se espalhe.
Deve-se criar um espaço onde é possível desejar. Este espaço, obviamente, requer conflito com a ordem social. Para desejar, em uma sociedade estruturada para confinar o desejo, é uma tensão que vivem diariamente.
Este terreno, que nasce na ruptura, deve desafiar a opressão em sua integridade. Isto significa a negação total ao mundo. Devem voltar os corpos em rebeldia. Podem apreender a fortaleza de seus corpos em rebeldia para criar o espaço para seus desejos. No desejo encontrarão o poder para destruir o que os destrói. Tem que estar em conflito com o regime do normal.
Este artigo é uma adaptação e tradução do panfleto "Towards the queerest insurrection”
Kenneth
Anger, John Waters, Divine e outros
Kenneth Anger é um cineasta undergroud, célebre por seus filmes experimentais que envolvem temas como homoxessualismo, ocultismo e cultura pop. É de grande influência na cultura queer. Influenciou também cineastas como Martin Scorsese e David Lynch. É considerado por muitos críticos como um fetichista.
John Waters teve destaque na contracultura dos anos 70 com seus filmes cult transgressivos. Uma de suas "atrizes fetiches" era a travesti Divine, que participa de grande parte de seus filmes. John trabalhou também com criminosos convíctos e atrizes pornôs em suas películas.
Rainer Werner Fassbindes tem mais de 40 filmes que falam sobre sedução, rebeldia gay, lealdade e dominação. Os temas fortes, a estética kitsch, o mundo gay e as aterradoras interpretações dos atores conquistaram o mundo. Curiosamente foi um precursor da cultura do couro.
John Waters teve destaque na contracultura dos anos 70 com seus filmes cult transgressivos. Uma de suas "atrizes fetiches" era a travesti Divine, que participa de grande parte de seus filmes. John trabalhou também com criminosos convíctos e atrizes pornôs em suas películas.
Rainer Werner Fassbindes tem mais de 40 filmes que falam sobre sedução, rebeldia gay, lealdade e dominação. Os temas fortes, a estética kitsch, o mundo gay e as aterradoras interpretações dos atores conquistaram o mundo. Curiosamente foi um precursor da cultura do couro.
Queercore
Militância, movimento punk e peso. De fanzines
obscuros a influência na cena alternativa, a história do
movimento único no gueto
Por Breno Soares
God Is My Co-Pilot; Team Dresch; Fifth Column; NUCLEAR FAMILY; Sister George
Funzine Queercore
Este foi o fanzine que inaugurou o movimento Queercore. (estas são algumas das páginas)
Continuamos nas nossas buscas das Tavernas Contemporâneas, em outubro nossa peça-festa ultra-romântica. Mais informações Clique Aqui.
Em tempos de liberdade de expressão, onde a mídia
mostra o que deseja mostrar, onde os jornalistas protestam e onde
a censura já não é tão forte quanto na época da ditadura, vemos
tantos movimentos surgirem quanto pessoas podem criá-los.
A música como instrumento de protesto, tanto quanto de prazer não poderia ficar de fora. Desconhecido por muitos, o Queercore é um movimento com poucos expoentes de sucesso como Marilyn Manson, que por razões de mercado caiu fora desse. Outros mais obscuros vestem a camisa e batem no peito.
O Queercore é filho do punk, um braço do estilo que
resolveu caminhar pelas ruas gays da música. Protesta, grita, é pesado
e muitas vezes sujo como punk, mas gay em suas letras e atitudes.
Considerado mais que apenas um movimento musical, o
Queercore é considerado um movimento social e cultural que teve
início em meados da década de 80 e mesmo sendo um movimento gay,
preferiu (ou foi obrigado) a ficar afastado das rodas gays e
lésbicas da época.
Mesmo tendo surgido do punk, o movimento compreende atualmente artistas em outros gêneros musicais como: hardcore punk, synthpunk, indie rock, power pop, no wave, noise, experimental, industrial, etc. Pois ser Queercore hoje em dia é muito mais que fazer punk gay e sim ter a atitude do grupo.
Mesmo tendo surgido do punk, o movimento compreende atualmente artistas em outros gêneros musicais como: hardcore punk, synthpunk, indie rock, power pop, no wave, noise, experimental, industrial, etc. Pois ser Queercore hoje em dia é muito mais que fazer punk gay e sim ter a atitude do grupo.
God Is My Co-Pilot; Team Dresch; Fifth Column; NUCLEAR FAMILY; Sister George
Inicialmente chamado de Homocore, os primeiros gritos do movimento foram ouvidos por um zine canadense, de Toronto, fundado por G.B. Jones e co-publicado por Bruce LaBruce, o J.D.s Este é considerado o início do movimento. Teve oito publicações de 1985 até 1991.
A coisa pegou mesmo quando depois das primeiras
edições do J.D.s. Os editores escreveram um manifesto entitulado
“Não seja gay”, mesmo nome de um artigo originalmente lançado em
outro fanzine da época, Maximum RocknRoll. O artigo foi lançado pelo Maximum em Fevereiro de 1989 e atacava tanto a cultura punk quanto a cultura gay.
O J.D.s respondeu com esse manifesto e logo em
seguida lançou um fita com os nomes mais expoentes do Queercore, como
as bandas canadenses Fifth Column e Nikki Parasite, a americana Bomb,
as inglesas The Apostles, Academy 23 e No Brain Cells além da Gorse,
da Nova Zelândia. Nessa época muitas bandas da cena estavam levando o
título de Queercore, muito mais pelo seu suporte ao movimento, e não
necessariamente bandas de gays. Depois Los Crudos e Go! vieram a engrossar a lista, mas desta vez tendo algum membro queer ou gay assumido.
“(…) Talvez a definição esteja baseada mais na
expressão individual, mas dizem que é o tipo de coisa que você
reconhece quando vê. Ao invés de tentar categorizar e definir, as
pessoas tendem a se juntar a ele, exatamente por sua diversidade,
por ser interessante e pelas possibilidades a serem
desenvolvidas a partir do conceito original. Muitas pessoas
optam por usar o termo queercore pra se afastar das imagens
trazidas pela associação com o movimento punk, e para incluir
tanto os punks gays como todas as outras coisas que refletem suas
idéias básicas (…).”
revista Oasis.
Funzine Queercore
Este foi o fanzine que inaugurou o movimento Queercore. (estas são algumas das páginas)
Continuamos nas nossas buscas das Tavernas Contemporâneas, em outubro nossa peça-festa ultra-romântica. Mais informações Clique Aqui.
Grupo Liquidifica-a-dor
seus posts estão cada dia melhores!
ResponderExcluirQUEER.
ResponderExcluirSim, sim, isso sim!