sábado, 26 de abril de 2014
Visceras
GUTS
(chuck palahniuk)
Inspire.
Inspire o máximo de ar que conseguir.
Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar
sua respiração, e um pouco mais.
Então leia o mais rápido que puder.
Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre "fio-terra". Isso é quando alguém
enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem
que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse
amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor
forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir
uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do
supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o
caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila,
observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.
Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os
ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.Como se ele fosse para casa
enfiar um bolo de cenoura no rabo.Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um
alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo.
Nada acontece, exceto pela dor.Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que
é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.Ele remove a cenoura e
coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da
cama.Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as
suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-
las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com
uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.Esse amigo meu,
ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles
nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível
aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de
ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma
paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.As
pessoas na França possuem uma expressão: "sagacidade de escadas." Em
francês:
esprit de l'escalier
. Representa aquele momento em que você encontra a
resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o
insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz
algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa....Enquanto você desce as
escadas, então - mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A
réplica mais avassaladora.Esse é o espírito da escada.O problema é que até
mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que
você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou
faz. Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para
serem discutidos. Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens,
os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio
adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais
o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no
suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro
que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer...
melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.
Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia
como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que
fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de
camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta
chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida,
do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das
extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de
espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e
inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles
então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os fazia gozar melhor. De forma
mais intensa. Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em
francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem. Depois disso, o irmão mais
novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu
pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no
hospital. Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando
as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única
coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vêm visitar. No telefone,
ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha. Pelo
telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no
seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando
algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi
depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como
os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa
servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas
escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia
servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na
palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino. Chapado e com tesão, ele enfia lá
dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa
parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho. Até mesmo nesse momento
ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram
totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão
boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando
percebe que a cera não está mais lá. O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo.
Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau. Das escadas,
sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele
momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas
viviam basicamente a mesma vida. Depois do jantar, as entranhas do garoto
começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele
poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar
ereto corretamente. O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no
fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows. Os raios-X
mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e
fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando
maior e mais espesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro,
rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins
estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue. O garoto e seus
pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as
enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele
deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o
seu irmão mais velho da Marinha escreveu. No telefone, nesse momento, ele
começa a chorar.Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da
poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um
advogado. Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma
vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em
problemas. O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso
era bater punheta embaixo d'água, sentando no fundo da piscina dos meus pais.
Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu
sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.Só de bater punheta eu tinha
conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim,
eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em
grandes e gordas gotas.Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar
todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca
Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo,
minha mãe.Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem,
pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas
cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas
nas quais você não se preocupa que te pegam.A melhor parte da Pesca
Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar
nela.Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cu chupado? Mesmo
assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será
um advogado.Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e
ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha
cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido.
Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só
em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte por que
faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve
enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.Num
momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão
no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.Minhas
mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e
sento no fundo.Faço isso de novo, e de novo.Deve ser por isso que garotas
querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba.
Meu pau duro e meu cu sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do
meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz
começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das
pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos
ficando enrugados por estar tanto tempo na água.E então acontece. As gotas
gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando
tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim.
Minha bunda está presa.Médicos de plantão de emergência podem confirmar que
todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do
filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar.
Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.As pessoas simplesmente não
falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um
joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo.
Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando
para fora da água também.Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo
estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que
isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.As
brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás... mas
não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia
de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das
veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água,
que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir
na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços
de alguma refeição semi-digerida.Só há uma explicação. Algum horrível monstro
marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se
escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me
comer.Então... eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de
veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha
perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cu. Com outro chute,
estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu
traseiro, estou bem próximo de escapar.Dentro da cobra, é possível ver milho e
amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de
vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir
a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.Ver essa
pílula foi o que me salvou a vida.Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu
cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso
de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.Os médicos de plantão
de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros
de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande
problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o
término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas
entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180
quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.O que eu posso dizer é que
suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As
coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo
está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.Essa sopa de
sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com
minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou,
mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.Deus
proíba que meus pais vejam meu pau.Com uma mão seguro a saída do meu rabo,
com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim,
é impossível puxar de volta.Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos,
compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole.
Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d'água. Então
tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão
escorregadia que não dá para segurar.Uma camisinha dessas é feita do bom e
velho intestino.Você então vê contra o que eu lutava.Se eu largo, sai tudo.Se eu
nado para a superfície, sai tudo.Se eu não nadar, me afogo.É escolher entre
morrer agora, e morrer em um minuto.O que meus pais vão encontrar depois do
trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na água turva da
piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas
retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o
bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que
esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um
mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e
esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de
esperma.Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha
encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos
destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.Algo
sobre o qual nem os franceses falam.Aquele irmão mais velho na Marinha, ele
ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós
falamos "Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça...," os russos
dizem, "Preciso disso como preciso de dentes no meu cu......Mne eto nado kak
zuby v zadnitse.Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a
própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas
mordidas são melhores que morrer.Droga... mesmo se você for russo, um dia vai
querer esses dentes.Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca
um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde
e rói seu próprio cu. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para
poder respirar de novo.Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro
encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse
como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.É difícil dizer o que
enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois
do hospital, minha mãe dizia, "Você não sabia o que estava fazendo, querido.
Você estava em choque." E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.Todas
aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim...Precisava disso como
precisaria de dentes no cu.Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou
magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não
como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer
coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida.
Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.Depois
que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não
digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino
grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca
consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus
dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu
nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.Outro problema foi que meus pais
pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara
da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se
afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu
o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma
grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, "Aquela porra
daquele cachorro era maluco.” Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia
ouvir meu pai falar, "Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um
segundo...” E então a menstruação da minha irmã atrasou.Mesmo depois que
trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro
estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais
nunca mencionaram mais isso novamente.
Nunca.
Essa é a nossa cenoura invisível.
Você.
Agora você pode respirar.
Eu ainda não.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Afectos - Terceiro Ensaio
Terceiro ensaio. Encontro de especialistas em literatura. Apartes e objetivos específicos de cada especialista. Trabalho com tipos.
Trechos
Mesa de amigos. Jogo de War (versão Cubista). Cada pessoa um continente. Veneno de Barata. Suicídio coletivo.
Necessidade de uma estrutura...
Clubes...
Clãs....
Famílias...
Comunhões...
ZZZZZZ...
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Lá vai!
Toda vez que ele sobe, todo mundo fica olhando, ora, claro! Como não olhar essa tão diferente do que vemos sempre e sempre.
Pode almoçar, repetir se você quiser, aqui continua do mesmo jeito. Tudo caminha conforme você espera. Não sei muito bem o que fazer quando olho pra você, fico meio desconcertada, com medo das suas garras que saem do olho direito, apesar de saber que você tem dois corações e que neles cabe muito mais coisas do que tenho aqui no meu.
Gosto das suas unhas pretas saindo da barriga, elas combinam com você. Fazem uma perfeita composição, em contra, ao brilho do sol debaixo do seu suvaco. E o seu pelo, tão macio quanto uma bundinha de nenêm.
Não sei ler o seu todo, as suas entrelinhas estão tão escondidas quanto às tripas que percorrem o seu intestino delgado. E dão voltas tão bonitas quanto uma redondilha maior do jovem Camões preso às suas ambiguidades.
Ambiguidade é sua marca registrada no ponto de recôncavo distorcido como a árvore do cerrado.
Desculpa, to indo embora. Guardo suas poesias dentro do meu relicário.
Pode almoçar, repetir se você quiser, aqui continua do mesmo jeito. Tudo caminha conforme você espera. Não sei muito bem o que fazer quando olho pra você, fico meio desconcertada, com medo das suas garras que saem do olho direito, apesar de saber que você tem dois corações e que neles cabe muito mais coisas do que tenho aqui no meu.
Gosto das suas unhas pretas saindo da barriga, elas combinam com você. Fazem uma perfeita composição, em contra, ao brilho do sol debaixo do seu suvaco. E o seu pelo, tão macio quanto uma bundinha de nenêm.
Não sei ler o seu todo, as suas entrelinhas estão tão escondidas quanto às tripas que percorrem o seu intestino delgado. E dão voltas tão bonitas quanto uma redondilha maior do jovem Camões preso às suas ambiguidades.
Ambiguidade é sua marca registrada no ponto de recôncavo distorcido como a árvore do cerrado.
Desculpa, to indo embora. Guardo suas poesias dentro do meu relicário.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Quem tem medo do medo que você tem
Nunca tive de medo de lobo. |
Curiosamente eu tenho lembranças vividas das criaturas assustadoras dessas historias mas até fazer essa pesquisa tinha me esquecido dos desfechos cômicos, a la Bicho Papão de Harry Potter. Por que será que a parte tenebrosa foi a que ficou de mais marcante para mim?
Contudo, alem de me impressionar, os livros também possuíam um bom efeito para a minha auto-estima, já que em sua maioria -mesmo antes de ler os livros- esses não eram medos que eu possuia. Fala sério, medo de Dentista? Rá! Eu usei aparelho desde os 4 anos! -Não que ao longo do tempo eu não tenha adquirido medo de dentista-.
Acho que é bem facil aprender a ter medo de alguma coisa que você não tinha, do que perder um medo velho.
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Afectos - Segundo Ensaio
Segundo ensaio. Encontro na casa da Ana Flávia. Pique-esconde pela casa. Reunião em volta da mesa. Retomada dos objetos e suas utilizações fantásticas. Objetivos específicos para cada um. Um convidado inesperado? Os assuntos banais tratados de maneira exacerbada. Situações trágicas tratadas com banalidade. Quem ficará sentado nas cadeiras. Um morto muito louco como novo adereço para decoração.
Convenção internacional dos especialistas em Sereias. Sorteio de tipos. Comprovação da existência palpável destes seres. Conclusão apaixonada X Ceticismo.
A cena do piano e o expectador da TV,
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Manchete: Happy Friends Festas
No último domingo (20/04/14), o aniversário de Rafael, 10, termina em tragédia.
A festa para a comemoração do aniversário do garoto estava marcada para as 12h e sua família receberia na casa dos avós 90 convidados. "Preparei com muito carinho a festa do meu filho. Passei mais de um mês organizando e confeccionando as lembrancinhas." Afirma Lúcia, mãe de Rafael, que também contratou pula-pula, piscina de bolinhas, palhaços e várias atrações para entreter os convidados. "Fiz tudo com muito esmero", continua Lúcia.
Em um dos brinquedos contratado pela mãe foi uma bolha gigante, onde uma criança por vez entra e flutua na piscina. Uma das atrações mais disputadas pelos colegas de Rafael. Cada criança estava esperando, em média, 10 minutos para brincar por 2 minutos na bolha.
Após aguardar sua vez com paciência, Catarina, 9, entrou no brinquedo. "Nunca tinha deixado a Catarina entrar nesse tipo de brinquedo. Sempre achei muito perigoso. Mas ela insistiu muito e permiti, pois parecia tão importante pra ela!", relata Marta Vaz, 33, mãe de Catarina.
Segundo o funcionário da empresa de festas infantis, que não quis ser identificado, a menina brincou por apenas quatro segundos. "Foi o tempo de eu ativar o cronômetro e olhar pra menina. Foi tudo muito rápido." relata o funcionário da empresa Happy Friends Festas.
Às 16h22 os convidados da festa do pequeno Rafael, tranquilamente desfrutavam de uma tarde fresca de domingo com amigos e familiares. Mas um barulho de explosão rompe as conversas e brincadeiras. As aproximadas 80 testemunhas deparam-se com uma piscina que vermelha. Instantaneamente a água está completamente tingida por sangue.
No primeiro momento não foi possível identificar o que havia acontecido. Era apenas uma enorme mancha colorada. O caos se instaura. As crianças gritam e os pais desesperados procuram pelos seus filhos. O silêncio transforma-se em puro pânico e correria.
Marta, a mãe da menina Catarina impulsivamente salta na piscina e nada por toda a área em busca da filha. Outros convidados também pulam na piscina, mas apenas pedaços de carne encontram. O funcionário da Happy Friends Festas diz, "A mulher urrava e parecia não entender o que já era obvio. A menininha estava aos pedaços e a mãe abraçava contra o corpo braços e vísceras dela. Foi preciso umas cinco pessoas pra retirá-la da água. Nunca vi nada parecido."
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domingo, 20 de abril de 2014
Domingo é dia de missa
Neste sagrado domingo de páscoa, decido abster-me dos meus impulsos carnais e autorais e de quaisquer influências estéticas/espirituais violentas, malévolas ou subversivas, e devoto meu primeiro post neste blog a ser o bom cristão que me ensinaram a ser, em respeito a todas as hóstias que já caguei e a todas as punhetas que já confessei, citando um dos meus trechos prediletos da Bíblia, e uma belíssima oração/canção.
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