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sábado, 26 de abril de 2014

Visceras

GUTS (chuck palahniuk) Inspire. Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então leia o mais rápido que puder. Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre "fio-terra". Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou. Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá- las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.As pessoas na França possuem uma expressão: "sagacidade de escadas." Em francês: esprit de l'escalier . Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa....Enquanto você desce as escadas, então - mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.Esse é o espírito da escada.O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz. Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos. Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer... melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente. Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os fazia gozar melhor. De forma mais intensa. Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem. Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital. Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vêm visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha. Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino. Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho. Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá. O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau. Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida. Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente. O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows. Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais espesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue. O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmão mais velho da Marinha escreveu. No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado. Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas. O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d'água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nas quais você não se preocupa que te pegam.A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cu chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte por que faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.Faço isso de novo, e de novo.Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cu sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás... mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.Então... eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cu. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.Deus proíba que meus pais vejam meu pau.Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d'água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.Você então vê contra o que eu lutava.Se eu largo, sai tudo.Se eu nado para a superfície, sai tudo.Se eu não nadar, me afogo.É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na água turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.Algo sobre o qual nem os franceses falam.Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos "Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça...," os russos dizem, "Preciso disso como preciso de dentes no meu cu......Mne eto nado kak zuby v zadnitse.Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.Droga... mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cu. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, "Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque." E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim...Precisava disso como precisaria de dentes no cu.Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, "Aquela porra daquele cachorro era maluco.” Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, "Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo...” E então a menstruação da minha irmã atrasou.Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente. Nunca. Essa é a nossa cenoura invisível. Você. Agora você pode respirar. Eu ainda não.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Afectos - Terceiro Ensaio


Terceiro ensaio. Encontro de especialistas em literatura. Apartes e objetivos específicos de cada especialista. Trabalho com tipos.

Trechos





Mesa de amigos. Jogo de War (versão Cubista). Cada pessoa um continente. Veneno de Barata. Suicídio coletivo.




Necessidade de uma estrutura...
Clubes...
Clãs....
Famílias...
Comunhões...
ZZZZZZ...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Lá vai!

Toda vez que ele sobe, todo mundo fica olhando, ora, claro! Como não olhar essa tão diferente do que vemos sempre e sempre.
Pode almoçar, repetir se você quiser, aqui continua do mesmo jeito. Tudo caminha conforme você espera. Não sei muito bem o que fazer quando olho pra você, fico meio desconcertada, com medo das suas garras que saem do olho direito, apesar de saber que você tem dois corações e que neles cabe muito mais coisas do que tenho aqui no meu.

Gosto das suas unhas pretas saindo da barriga, elas combinam com você. Fazem uma perfeita composição, em contra, ao brilho do sol debaixo do seu suvaco. E o seu pelo, tão macio quanto uma bundinha de nenêm.

Não sei ler o seu todo, as suas entrelinhas estão tão escondidas quanto às tripas que percorrem o seu intestino delgado. E dão voltas tão bonitas quanto uma redondilha maior do jovem Camões preso às suas ambiguidades.

Ambiguidade é sua marca registrada no ponto de recôncavo distorcido como a árvore do cerrado.

Desculpa, to indo embora. Guardo suas poesias dentro do meu relicário.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Quem tem medo do medo que você tem



Nunca tive de medo de lobo.

Quando eu era criança eu tinha muitos livros e por incrível que pareça os que eu mais gostava eram sempre os que tinham coisas pertubadoras. Me lembro sempre da coleção Quem tem medo de... que  me impressionava com suas ilustrações assustadoras, e quase me fazia sentir medo de coisas que eu não tinha.


Curiosamente eu tenho lembranças vividas das criaturas assustadoras dessas historias mas até fazer essa pesquisa tinha me esquecido dos desfechos cômicos, a la Bicho Papão de Harry Potter. Por que será que a parte tenebrosa foi a que ficou de mais marcante para mim?
Contudo, alem de me impressionar, os livros também possuíam um bom efeito para a minha auto-estima, já que em sua maioria -mesmo antes de ler os livros- esses não eram medos que eu possuia. Fala sério, medo de Dentista? Rá! Eu usei aparelho desde os 4 anos! -Não que ao longo do tempo eu não tenha adquirido medo de dentista-. 

Acho que é bem facil aprender a ter medo de alguma coisa que você não tinha, do que perder um medo velho. 




Afectos - Segundo Ensaio


Segundo ensaio. Encontro na casa da Ana Flávia. Pique-esconde pela casa. Reunião em volta da mesa. Retomada dos objetos e suas utilizações fantásticas. Objetivos específicos para cada um. Um convidado inesperado? Os assuntos banais tratados de maneira exacerbada. Situações trágicas tratadas com banalidade. Quem ficará sentado nas cadeiras. Um morto muito louco como novo adereço para decoração.

Convenção internacional dos especialistas em Sereias. Sorteio de tipos. Comprovação da existência palpável destes seres. Conclusão apaixonada X Ceticismo.

A cena do piano e o expectador da TV,





segunda-feira, 21 de abril de 2014

Manchete: Happy Friends Festas

No último domingo (20/04/14), o aniversário de Rafael, 10, termina em tragédia. 

A festa para a comemoração do aniversário do garoto estava marcada para as 12h e sua família receberia na casa dos avós 90 convidados. "Preparei com muito carinho a festa do meu filho. Passei mais de um mês organizando e confeccionando as lembrancinhas." Afirma Lúcia, mãe de Rafael, que também contratou pula-pula, piscina de bolinhas, palhaços e várias atrações para entreter os convidados. "Fiz tudo com muito esmero", continua Lúcia. 
Em um dos brinquedos contratado pela mãe foi uma bolha gigante, onde uma criança por vez entra e flutua na piscina. Uma das atrações mais disputadas pelos colegas de Rafael. Cada criança estava esperando, em média, 10 minutos para brincar por 2 minutos na bolha. 
Após aguardar sua vez com paciência, Catarina, 9, entrou no brinquedo. "Nunca tinha deixado a Catarina entrar nesse tipo de brinquedo. Sempre achei muito perigoso. Mas ela insistiu muito e permiti, pois parecia tão importante pra ela!", relata Marta Vaz, 33, mãe de Catarina. 
Segundo o funcionário da empresa de festas infantis, que não quis ser identificado, a menina brincou por apenas quatro segundos. "Foi o tempo de eu ativar o cronômetro e olhar pra menina. Foi tudo muito rápido." relata o funcionário da empresa Happy Friends Festas. 

Às 16h22 os convidados da festa do pequeno Rafael, tranquilamente desfrutavam de uma tarde fresca de domingo com amigos e familiares. Mas um barulho de explosão rompe as conversas e brincadeiras. As aproximadas 80 testemunhas deparam-se com uma piscina que vermelha. Instantaneamente a água está completamente tingida por sangue. 
No primeiro momento não foi possível identificar o que havia acontecido. Era apenas uma enorme mancha colorada. O caos se instaura. As crianças gritam e os pais desesperados procuram pelos seus filhos. O silêncio transforma-se em puro pânico e correria. 
Marta, a mãe da menina Catarina impulsivamente salta na piscina e nada por toda a área em busca da filha. Outros convidados também pulam na piscina, mas apenas pedaços de carne encontram. O funcionário da Happy Friends Festas diz, "A mulher urrava e parecia não entender o que já era obvio. A menininha estava aos pedaços e a mãe abraçava contra o corpo braços e vísceras dela. Foi preciso umas cinco pessoas pra retirá-la da água. Nunca vi nada parecido."

domingo, 20 de abril de 2014

Domingo é dia de missa


Neste sagrado domingo de páscoa, decido abster-me dos meus impulsos carnais e autorais e de quaisquer influências estéticas/espirituais violentas, malévolas ou subversivas, e devoto meu primeiro post neste blog a ser o bom cristão que me ensinaram a ser, em respeito a todas as hóstias que já caguei e a todas as punhetas que já confessei, citando um dos meus trechos prediletos da Bíblia, e uma belíssima oração/canção.



"Quando uma mulher, com voz de soprano, emite suas notas vibrantes e melodiosas, ao ouvir essa harmonia humana meus olhos se enchem de uma chama latente, e lançam fagulhas dolorosas, enquanto que em minhas orelhas parece ressoar o fragor da canhonada. De onde pode vir essa repugnância profunda por tudo o que tem a ver com o homem? Se os acordes se desprendem das fibras de um instrumento, a percepção só transmite a meu ouvido a impressão de uma doçura capaz de fundir os nervos e o pensamento; uma dormência inefável envolve, com suas papoulas mágicas, como um véu que filtra a luz do dia, a potência ativa dos meus sentidos e as forças vivazes da minha imaginação.

Contam que nasci entre os braços da surdez! Nas primeiras épocas da minha infância, não ouvia o que me diziam. Um dia, pois, cansado de calcar com os pés a trilha abrupta da viagem terrestre, e de seguir, cambaleando como um bêbado, através das catacumbas obscuras da vida, levantei vagarosamente meus olhos melancólicos, rodeados por um grande círculo azulado, para a concavidade do firmamento, e ousei penetrar, eu, tão jovem, nos mistérios do céu! Nada encontrando do que procurava, ergui minhas pálpebras aterradas mais para cima, ainda mais para cima, até enxergar um trono, formado por excrementos humanos e ouro, sobre o qual reinava, com um orgulho idiota, o corpo recoberto por um lençol feito de trapos não lavados de hospital, aquele que se intitula a si mesmo de Criador! Segurava na mão o tronco apodrecido de um homem morto, e o levava, alternadamente, dos olhos ao nariz, e do nariz à boca; uma vez na boca, adivinha-se o que fazia. Seus pés mergulhavam em um vasto charco de sangue em ebulição, em cuja superfície se erguiam, de repente, como tênias através do conteúdo de um penico, duas ou três cabeças prudentes, que logo se abaixavam, com a rapidez da flecha; um pontapé, bem aplicado sobre o osso do nariz, era a recompensa já sabida pela revolta contra o regulamento, ocasionada pela necessidade de respirar em outro ambiente. Até que, nada mais tendo à mão, o Criador, com as duas primeiras garras do pé, agarrou outro mergulhador pelo pescoço, como por meio de uma tenaz, e o ergueu no ar, sobre o lodo avermelhado, molho delicado! Com esse, fazia o mesmo que com o outro. Devorava primeiro a cabeça, as pernas e os braços, e por último o tronco, até que nada mais sobrasse; pois roía seus ossos. E assim prosseguia, durante as outras horas da sua eternidade, sua refeição cruel, mexendo seu maxilar inferior, que mexia sua barba cheia de miolos. Leitor, esse último detalhe não te traz água à boca? Não é qualquer um que come um tal miolo, tão gostoso, bem fresco, que acaba de ser pescado a menos de um quarto de hora, no lago dos peixes. Os membros paralisados, a boca muda, contemplei por algum tempo esse espetáculo. Finalmente, meu peito oprimido não podendo expulsar com suficiente rapidez o ar que dá a vida, os lábios da minha boca se entreabriram, e eu soltei um grito… um grito tão lancinante… que eu o ouvi! Os entraves da minha orelha se desataram de uma maneira brusca, o tímpano rangeu sob o choque dessa massa de ar sonora empurrada para longe de mim com energia, e aconteceu um fenômeno novo no órgão condenado pela natureza.

Eu acabava de ouvir um som!

Um quinto sentido se revelava em mim! Mas que prazer poderia eu encontrar em tal descoberta? Desde então, o som humano só chegou a meus ouvidos com o sentimento da dor que engendra a piedade por uma grande injustiça. Quando alguém falava comigo, lembrava-me do que havia visto, um dia, acima das esferas visíveis, e a tradução dos meus sentimentos sufocados em um uivo impetuoso, cujo timbre era idêntico ao dos meus semelhantes! Mais tarde, quando conheci melhor a humanidade, a esse sentimento de piedade juntou-se um furor intenso contra essa tigresa madrasta, cujos filhotes empedernidos só sabem praguejar e cometer o mal. Audácia da mentira! dizem que o mal só existe neles em estado de exceção!…

Agora acabou, há muito tempo; há muito tempo não dirijo a palavra a ninguém. Ó vós, seja quem fores, quando estiverdes a meu lado, que as cordas da vossa glote não deixem escapar qualquer entonação; e que não procureis, de modo algum, fazer que eu conheça vossa alma com a ajuda da linguagem. Observai um silêncio religioso, que nada interrompa. Eu o disse, desde a visão que me fez conhecer a verdade suprema, o bastante de pesadelos sugou avidamente minha garganta, pelas noites e pelos dias, para que ainda tivesse a coragem de renovar, mesmo em pensamento, os sofrimentos que experimentei nessa hora infernal, que me persegue sem trégua com sua lembrança. Ah! quando ouvirem a avalancha de neve tombar do alto da fria montanha; a leoa a lamentar-se, no deserto árido, pelo desaparecimento dos seus filhotes; a tempestade cumprir seu destino; o condenado mugir, na prisão, na véspera da guilhotina; e o polvo feroz narrar, às ondas do mar, suas vitórias sobre os nadadores e os náufragos, dizei, essas vozes majestosas não são mais belas que o riso de escárnio do homem?"

Md 2:8 (hereticamente mutilado e adaptado)