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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Confraternização do Teatro de Grupo de Brasília

No último sábado (26/07/2014), com parceria do Grupo Tripé, abrimos nossa casa provisória para a realização de uma Confraternização do Teatro de Grupo de Brasília. Convidamos artistas espalhados por Brasília que tivessem envolvimento com grupos de teatro. O evento foi um encontro informal para que pessoas tão distintas, com trabalhos distintos, mas com uma causa em comum, pudessem se conhecer, interagir, trocar figurinhas.


Foram aproximadamente 40 artistas, entre idas e vindas, que compareceram na festa! Dançamos, trocamos, rimos juntos e, para finalizar, ainda tivemos um belíssimo pocket show improvisado por Lucas Muniz, Pedro Miranda e Mateus Ferrari! Foi uma beleza!

Abaixo, "lista de chamada" e divulgações impressas dos espetáculos do pessoal.





Não sabemos quando será a próxima confraternização. Pelo menos, não sabemos de uma organizada por nós. Por enquanto, estamos nos concentrando e focando as energias no nosso novo espetáculo, AQUÁRIO, que estréia no próximo mês. Sejam todos bem-vindos para conferir este nosso trabalho fresquinho, que acontecerá na mesma casa que foi realizada a festa de grupos.























domingo, 27 de julho de 2014

Água e Carne


Minha segunda e provavelmente última citação bíblica.

"Procurava uma alma que se assemelhasse a mim, e não conseguia encontrá-la. Revirava todos os rincões da terra; minha perseverança era inútil. No entanto, não podia continuar só. Precisava de alguém que aprovasse meu caráter; precisava de alguém que tivesse as mesmas ideias que eu.

Foi de manhã; o sol se ergueu no horizonte em toda a sua magnificência, e eis que, diante dos meus olhos, ergue-se também um jovem cuja presença fazia brotar flores a sua passagem. Aproximou-se de mim, estendendo-me a mão: "Vim a ti, ó tu que me procuras. Abençoemos este dia feliz". Eu, porém: "Vai-te; não te chamei; não preciso da tua amizade…"
Foi ao entardecer; a noite começava a estender o negrume do seu véu sobre a natureza. Uma bela mulher, que eu mal distinguia, também estendia sobre mim sua influência encantadora, e me olhava com compaixão; no entanto, não ousava falar-me. Disse-lhe: "Chega perto, para que eu distinga com nitidez os traços do teu rosto". Então, com uma postura recatada, olhos baixos, pisou a relva do prado, dirigindo-se a mim. Assim que a vi: "Vejo que a bondade e a justiça fixaram residência em teu coração; não poderíamos viver juntos". O que me faltava, então, a mim que rejeitava, com tamanho desprezo, o que havia de mais belo na humanidade!



Sentei-me em um rochedo, à beira-mar. Um navio acabava de içar todas as suas velas, para afastar-se dessas paragens: um ponto imperceptível acabava de aparecer no horizonte, e se aproximava aos poucos, impelido pelas rajadas do vento. A tempestade ia começar seus ataques, e já o céu escurecia, adquirindo um negror quase tão horrendo quanto o do coração do homem. O navio, um grande vaso de guerra, acabava de jogar todas as suas âncoras. O vento silvava com furor dos quatro pontos cardeais, e deixava as velas em tiras. Os trovões explodiam entre os relâmpagos, e não conseguiam encobrir o rumor dos lamentos que se ouviam na casa sem alicerces, sepulcro móvel. O balanço dessas massas aquosas ainda não havia conseguido romper as correntes das âncoras; mas seus embates haviam entreaberto um caminho para a água, nos flancos do navio.

O navio em perigo dispara os tiros de canhão do alarme; mas soçobra com lentidão… com majestade.

Quem não viu um navio afundar no meio da tempestade, da intermitência dos relâmpagos e da mais profunda escuridão, enquanto aqueles que ele contém são tomados por esse desespero que conheceis, esse ainda não conhece os acidentes da vida. Finalmente, um grito universal de imensa dor escapa dos flancos do navio, enquanto o mar redobra seus temíveis ataques. É o grito emitido pelo abandono das forças humanas. Todos se envolvem no manto da resignação, e entregam seu destino às mãos de Deus. Ajuntam-se como um rebanho de carneiros.

O navio em perigo dispara os tiros de canhão do alarme; mas soçobra com lentidão… com majestade.

Cada qual se repete que, uma vez na água, não conseguirá respirar; pois, até onde chega sua memória, não reconhece nenhum peixe como ancestral; exortam-se, porém, a reter o fôlego pelo maior tempo possível, a fim de prolongar a vida por mais dois ou três segundos; é a ironia vingativa que pretendem dirigir à morte…

O navio em perigo dispara os tiros de canhão do alarme; mas soçobra com lentidão… com majestade.

Está errado. Não dá mais tiros de canhão, não soçobra. A casca de noz foi completamente tragada. Ó céus! como alguém pode viver, depois de haver experimentado tantas volúpias? Acabava de ser-me concedido testemunhar as agonias da morte de inúmeros dos meus semelhantes. Minuto a minuto, segui as peripécias de suas angústias. Ora o mugido de alguma velha, enlouquecida pelo medo, dominava a cena. Ora o ganido solitário de uma criança de colo não deixava escutar os comandos das manobras. A cada quarto de hora, eu enfiava na face a ponta aguda de um ferro, e pensava secretamente: "Eles sofrem mais que isso!" Assim tinha, ao menos, um termo de comparação. De vez em quando, lançava o olhar na direção das cidades, adormecidas sobre a terra firme: e, vendo que ninguém desconfiava que um navio ia naufragar, recuperava a coragem, e voltava a ter esperança; tinha, pois a certeza de sua perdição! Não podiam escapar! Por um acréscimo de precaução, fui buscar minha espingarda de dois canos, a fim de que, se algum náufrago tivesse a tentação de alcançar os rochedos a nado, para escapar a uma morte iminente, uma bala no ombro o impedisse de cumprir seu propósito. No momento mais furioso da tempestade, eu vi, sobrenadando as águas, com esforços desesperados, uma cabeça enérgica, de cabelos eriçados. Engolia litros d'água, e afundava no abismo, balançando como um pedaço de cortiça. Mas logo aparecia, os cabelos escorrendo água; e, fixando os olhos na beira-mar, parecia desafiar a morte. Seu sangue-frio era admirável. Uma grande ferida sangrenta, ocasionada por alguma ponta de recife oculto, acutilava seu rosto intrépido e nobre. E, agora, não estava a mais de duzentos metros da falésia; e eu o distinguia com facilidade. Que coragem! Que espírito indômito! Havia decidido antecipadamente. Devia a mim mesmo a manutenção da minha promessa. Um som seco foi ouvido, e a cabeça imediatamente afundou, para não mais reaparecer. Em pé sobre o rochedo, enquanto o furacão açoitava meus cabelos e meu manto, contemplava em êxtase essa força da tempestade, abatendo-se sobre um navio, sob um céu sem estrelas. Mas aproximava-se o instante em que iria, eu mesmo, intervir como ator nessas cenas da natureza transtornada. Quando o lugar, onde o veleiro havia sustentado o combate, mostrou claramente que esse iria passar o resto dos seus dias no porão do mar, então aqueles que haviam sido levados pelas ondas reapareceram parcialmente à superfície. Seguravam-se abraçados, dois a dois, três a três; era o modo de não salvarem suas vidas; pois seus movimentos ficavam embaraçados, e afundavam como jarras furadas…

O que é esta esquadra de monstros marinhos que fende as ondas com rapidez? São seis; suas nadadeiras são vigorosas, e abrem caminho através das ondas revoltas. De todos esses seres humanos, que agitam os quatro membros nesse continente pouco firme, os tubarões logo fazem nada mais que um omelete sem ovos, e o repartem de acordo com a lei do mais forte. O sangue se mistura às águas, e as águas se misturam ao sangue. Seus olhos ferozes bastam para iluminar o cenário da carnificina… Mas o que será ainda esse tumulto das águas, lá longe, no horizonte? Dir-se-ia uma tromba-d'água a aproximar-se. Que remadas! Já vejo do que se trata. Uma enorme fêmea de tubarão vem partilhar o patê de fígado de ganso, e tomar o caldo frio. Está furiosa; pois chega esfaimada. Inicia-se um combate entre ela e os tubarões, para disputar os poucos membros palpitantes que flutuam ali e acolá, sem nada dizer, à superfície do creme vermelho. À direita, à esquerda, desfere dentadas que provocam feridas mortais. Mas três tubarões sobreviventes ainda a cercam, e é obrigada a virar-se em todas as direções, para esquivar-se das suas manobras. Com uma emoção crescente, o espectador acompanha essa batalha naval de um novo gênero. Tem os olhos fixos nessa corajosa fêmea de tubarão, com dentes tão fortes. Não hesita mais, coloca seu fuzil ao ombro e, com sua habilidade costumeira, acerta a segunda bala no ouvido de um dos tubarões, no momento em que este se mostrava sobre as ondas. Restam mais dois tubarões que exibem uma fúria maior ainda. Do alto do rochedo, o homem da saliva salobra se atira ao mar, e nada rumo ao tapete agradavelmente colorido, segurando em sua mão esse facão de aço que nunca o abandona. Agora, cada tubarão tem um contendor pela frente. Avança sobre seu adversário fatigado, e, sem pressa, enterra em seu ventre a afiada lâmina. A fortaleza móvel se livra facilmente do último adversário…



Encontram-se frente a frente, o nadador e a fêmea de tubarão, salva por ele. Olharam-se nos olhos, por alguns minutos; e ambos se espantaram por encontrar tamanha ferocidade no olhar do outro. Dão voltas nadando, não se perdem de vista, e se dizem: "Enganei-me até hoje; aí está alguém que é mais malvado". Então, de comum acordo, entre duas águas, deslizaram um para o outro, com uma admiração mútua, a fêmea do tubarão afastando as águas com suas nadadeiras, Maldoror batendo a onda com seus braços; e retiveram seu fôlego, em uma veneração profunda, cada qualdesejoso de contemplar, pela primeia vez, seu retrato vivo. Chegados a três metros de distância, sem qualquer esforço, caíram bruscamente um contra o outro, como dois ímãs, e se abraçaram com dignidade e reconhecimento, em um amplexo tão terno como o de um irmão ou de uma irmã. Os desejos carnais seguiram de perto essa demonstração de amizade. Duas coxas nervosas se colaram estreitamente à pele viscosa do monstro, como duas sanguessugas; e, os braços e as nadadeiras entrelaçados ao redor do corpo do objeto amado, rodeando-o com amor, enquanto suas gargantas e seus peitos logo formavam coisa alguma, a não ser uma massa glauca, com exalações de sargaços; no meio da tempestade que continua a provocar estragos; à luz dos relâmpagos; tendo por leito de himeneu a vaga espumosa, transportados por uma corrente submarina como em um berço, rolando sobre si mesmos, rumo às profundezas desconhecidas do abismo, juntaram-se em uma cópula longa, casta e horrorosa!… Finalmente, acabava de encontrar alguém semelhante a mim!… De agora em diante, não estava mais só na vida!… Ela tinha as mesmas ideias que eu!… Estava diante do meu prmeiro amor!"


Md 2:13 (hereticamente mutilado e adaptado)


o

Elemento nº4