Apenas as cartas são capazes de apontar as verdadeiras coordenadas no mapa de uma cidade sonhada. Podemos escolher nos guiar por elas, mas também possuímos lanternas. A dúvida talvez esteja em seguir o caminho mais seguro...
Vemos daqui que o mapa da cidade é
desenhado em forma de labirintos.
Percebemos que podemos entrar!
É um jogo... ou teatro?
Decidimos nos inserir nesse labirinto e
percebemos que os caminhos se bifurcam. Pensamos que só vamos encontrar a
cidade no centro ou no final desse caminho, mas talvez não se trate de almejar
o fim. Está acontecendo agora, nessa busca. É aqui mesmo, perdidos, que nos
encontramos. Encontramos!
É uma cidade arquitetada por muros
invisíveis, e as ruas nunca nos permitem ver o que há no fim. Nunca sabemos o
que esperar ao virar de cada esquina, ao menos que perguntemos ao Hacker e ao Stalker
(2082).
Após acessar todas as contas possíveis
das redes sociais, Instagram, Facebook, Google+ e Sarahah, Hacker
e Stalker (2082) nos contam que a sociedade que habita o labirinto Kissibifurca
é formada por Bruxamãs robôs ou Chullachaquis artificiais. Eles comparam
esses seres ao Homo sapiens cliché
que já tanto conhecemos, nos dizendo que há apenas uma diferença: a maneira
pela qual se reproduzem.
Hacker e Stalker (2082:152) afirmam que
“ ... se trata de seres monoicos, ou
seja, que possuem os dois órgãos sexuais no mesmo corpo, e, consequentemente,
se autofecundam. A produção de desejo desses indivíduos só acontece a partir da formação
e da manutenção de determinados símbolos: a tecnologia se desenvolve a partir
do pé esquerdo e a magia é emanada do braço mecânico. Quando fabricam desejo,
essas duas partes se encontram dando luz a Tecnomagia, um líquido de jenipapo
diferenciado que, caso a cor for verde, produz
Chullachaquis artificiais, e caso
a cor for púrpura, produz Bruxamãs robôs. E é assim que se inicia
o ciclo da vida divina dessa população.”
Hacker de repente dá um pulo e, muito feliz, nos conta que
conseguiu entrar no perfil privado de uma Bruxamã,
em que ela comenta como consegue atingir o orgasmo em apenas 10 segundos apenas
utilizando o teclado do computador.
Descobrimos também que, desde o
nascimento, a maioria delxs são ensinadxs (através de uma espécie de telepatia
discursiva) que devem se portar sempre seguindo as coordenadas de Natasha. Por
serem navegadorxs entre mundos saturados de inventividades televisivas, elxs já
conheceram todas as capacidades e incapacidades da engenhosidade humana, tanto do
domínio das plantas, quanto do domínio dos parafusos.
Em um dos caminhos bifurcados de
Kissibifurca, decidimos perguntar diretamente para o próprio Chullachaqui alguma coisa sobre eles mesmos, sobre o que sentem em
relação à vida, ao cotidiano, a qualquer coisa, e ele diz:
“Mesmo que pareça que viemos de um
mundo distante ou de uma realidade paralela em que o desenvolvimento ético se
dá através do alto investimento em ciência e tecnologia, acredito que estamos
no nível mais rudimentar da hierarquia de evolução imaginada pelo darwinismo
social, pois somos incapazes de diferenciar o olho, da lente. Mas assim né,
aqui em Kissibifurca, a profissionalização de feitiços cibernéticos é altamente
valorizada... A metodologia do feitiço é construída e pensada através do domínio
da codificação de
instruções que determinam sequências de ações que podem criar softwares ágeis que
permitem que possamos escolher entre ser uma esponja do mar ou um refrigerador
quando morremos.”
Decidi, então, perguntar qual seria a
escolha dele, e ele disse:
“Bom... o refrigerador pode não funcionar né,
e a esponja do mar serve de alimento para alguns moluscos do mar... Acho ambos muito ruins, não
consegui decidir ainda...”.
Referência
Bibliográfica:
HACKER e STALKER. 2082. Uma investigação cibernética pela
cartografia virtual de Kissibifurca. Editora Tecnomagia.