A arte é um elemento que se auto-rege, por isso, se ela começar a reproduzir a realidade, vai deixar de ser arte e virar jornal. Ela sublima a realidade e intermedia do jeito que quer.
Vou confessar: Agora que começa o meu verdadeiro desafio de atriz no processo do Ultraromântico. Sempre lidei com o depoimento pessoal como uma confissão, um purgatório, uma expurgação de sentimentos internos que me doiam. Aqueles que pedem para sair, para serem vomitados.
Agora não. To feliz para caralho e acho que vai durar. Que venha o teatro. Que venha o interprete. Vocês me entendem? Agora que começa a brincadeira. Vamo botar para fuder nessa peça. Ta tudo meio morno. Vamo botar fogo. Foda-se. Que post safadinho e banal.
Ah que vontade de tudo isso mesmo. Ei. Teatralidade. Dramaturgismo. Colaboratividade. Verdade. Sensibilidade. Pesquisa. Estudo.
Adoro fazer ultra posts bacanérrimos (ao meu ver) neste blog santo. O problema é que hoje estou com pressa. Não tenho tempo de fazer algo ultra pláster. Mas, o que eu tenho a dizer, é que este processo (ULTRAROMÂNTICO) é um processo atípico na minha vida sebenta cultural. Cenas belíssimas estão surgindo e experiências começando a ficar interessantes estamos vivendo dentro e fora da sala de ensaio. Acho que vou começar a postar fotos do "por enquanto" sem perder a surpresa. Ui. Tchau. Vou pra Buenos Aires, a nova cidade-moda dos jovens candangos.
Fiquei pensando e me deu vontade de escrever um texto para o programa da peça que fosse o avesso do que já disse que é estar em companhia, trabalhar com a Cia. Dizer que conviver desta forma é acompanhar neuroses mais subterrâneas e os comportamentos mais ridículos de um grupo de pessoas. Assistir idiossincrasias mais injustificáveis que emergem de criaturas cujos fantasmas psicológicos e sexuais constituem as instâncias mais insondáveis de um ser humano. É ter que aguentar indivíduos que não se comunicam decentemente com palavras e que para se sentirem bem realizam movimentos crispados e sons guturais, além de quedas ao chão e gritos lancinantes (isso quando não atiram coisas uns nos outros...). Que ao som de uma música que acreditam ser "instigante" iniciam sem sobreaviso jogos de proximidade e distância, de atração e repulsa, nos quais se revelam os segredos mais inomináveis. Mas, não sei. Talvez o público não precise saber disso. (Enrique Diaz).
[Cf. "O Processo", Programa Cobaias de Satã, Rio, CCBB, 1998.]