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domingo, 16 de outubro de 2016

O Teatro e seu Triplo



(manifesto para uma primeira (ins)piração.)

Estamos em busca de um teatro que possa tocar a vida.
Um teatro com frescor, que aborde as políticas cotidianas dos encontros, as assembleias desburocratizadas com regras ainda desconhecidas por todos. Em busca de campos expandidos.

Refazer os formatos em tempos de crises político/existenciais!
A atriz (agonista) que recebe as participantes (ex-espectadoras) e que vai de encontro com o risco, à aventura e com o desconhecido. Em oposição à autoridade, dignidade e o prestígio que os artistas tanto tempo perseguiram como foco de entrada numa classe aristocrática.

Estamos em busca de um teatro que possa tocar a vida.
Em busca de uma pesquisa sobre o mundo que vivemos. Visões sobre um mundo intermediado por gadgets diversos, um mundo pré-ciborgues em que a eugenia bate à porta de maneira assombrosa. Retomamos o corpo e os encontros.
A força elétrica que o teatro provoca no encontro entre os corpos.
Em busca de um espetáculo(?) que joga o jogo da teatralidade, sem os dogmas de fábulas dramatúrgicas para a assistência entediada.
O jogo com o real, a imagem e a imagem da imagem. Os atores, os participantes e o oco do ator. O oco do oco contemporâneo. Numa sociedade onde o simulacro já está completamente assimilado, o teatro que transcenda a ilusão da ilusão sem sentido.  O teatro e seu triplo jogo.
Retomar o sentir!

Estamos em busca de um teatro que possa tocar a vida.
Se os aparelhos auxiliam a vida eles a modificam também de forma irreversível.
O drama histórico não acompanhou isto e agoniza em suas próprias neuroses.
O design de si mesmo das redes é o mote para os Chullachaquis que percorrem o mundo virtual,  Os Doppelgänger Zumbis que interagem entre si como se fossem reais, mas que modificam nossos corpos e formatos de vivência. Nossa sociedade ocidental teve que dar a volta pra perceber que muitos pensamentos indígenas são mais avançados que as mais avançadas das mais avançadas das tecnologias...
O “divíduo” se interpõe ao indivíduo e ao sujeito. Podemos ser muitas ou nenhuma. Modificam o teatro e seu duplo social.

Transformar os formatos!
Transtornar os formatos!
Transgredir as sombras das formas de drama que a cultura congelou. Estamos em busca de regras desconhecidas. Formatar nossos HDs e apagar as memórias de regras, dogmas heroicos e metáforas caquéticas de um passado que insiste em se fazer presente, mas que não passam de sombras ocas de um mundo que não existe mais.
Des-formatar.
Virar a página e encontrar uma página em branco, sem linhas, pronta para invenção. Página em branco mas não vazia, página cheia de tudo que já se fez antes. O mago Francis Bacon falava: “Criar uma forma é borrar todas que já estão ali.”

A morte de um teatro que se leva a sério.
Acreditar que está veiculando ideias fantásticas é a pretensão de criadores que insistem em permanecer em seus feudos culturais e intelectuais, excluem a fisicalidade da cena em nome de um dogma ideológico. (“O que a peça quis dizer?”)


Basta de arte fechada, egoísta e pessoal.” dizia o xamã Artaud. O mundo já está abarrotado demais com o teatro do deprimido, é preciso mais!


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