(Entrevista do Grupo Liquidificador para o site QUAL QUADRA)
Tudo no Liquidificador!
Quer conhecer um grupo de teatro visceral? Pessoas que querem viver de poesia, sem concessões ao fácil ou ao altamente comercial: assim é o grupo Liquidificador.
Usando linguagem forte e
estruturados na boa literatura brasileira, fazem teatro questionador e
peças que não terminam no ato final, mas numa festa temática.
Conheça agora mais sobre o Grupo Liquidificador e entenda porque não dá para não conhecer essa mistura doce e ácida!
O
Grupo Liquidificador nasceu da UnB com estudantes de 4 cursos
diferentes e uma grande vontade de questionar. Falem mais sobre como
surgiu e o que é o grupo. Que mistura é essa?
O Grupo Liquidificador surgiu
por uma vontade de 7 jovens com formação em Artes Cênicas, Letras e
Artes Visuais pela Universidade de Brasília, de fazer teatro, não
somente isso, mas contribuir para o desenvolvimento social brasiliense
através de um posicionamento artístico. Estamos em constante
amadurecimento e nos construindo diariamente pautados sob uma
perspectiva de abordagem colaborativa, sempre colaborativa. E essa
mistura tem como resultado as nossas criações. Não somos um elemento
apenas, mas vários, fundidos em um processo e um resultado.
Numa
época da explosão das comédias stand up, os temas e a linguagem de
vocês são mais desafiadores. É difícil fazer esse trabalho mais pesado e
pensado?
Trata-se de um trabalho
diferente, apenas isso. Quanto ao desafio, sim é muito desafiador,
adaptar uma literatura que está disseminada em um formato fixo. Colocar
isto em cena em uma releitura é muito instigante. É isso que nos move. E
move muito, constantemente e ininterruptamente. Mas tudo cabe neste
nosso liquidificador, desde arte de vanguarda a novela das oito, do
teatrão ao besteirol, do clown a tropicália. Acreditamos que a criação é
livre e antropofágica, as referencias são infinitas para chegarmos no
resultado estético pretendido. Para nós também seria um desafio fazer um
espetáculo no formato de stand up, mas não foi este o caminho que nós
escolhemos.
Vocês criam os textos e fazem experimentações - inclusive na linguagem. Como é o processo criativo em grupo e como e quando uma peça fica pronta?
Uma peça nunca fica pronta.
Está em constante processo de criação, avaliação e adaptação, apenas em
diferentes níveis. Depois de desenhada a dramaturgia, por exemplo,
estamos em um nível diferente, após a estreia do espetáculo, estamos em
outro. Mas nenhum deles é engessado. Hoje, indo para a quarta semana de
apresentações, a peça pode sofrer alterações, pois a própria apreciação
do publico já nos influencia. E quanto ao processo criativo, ele é
realmente colaborativo. Todo mundo participa em tudo pra que o trabalho
saia o melhor possível.
O que vocês consideram como a "esquina" de Brasília?
A esquina do Liquidificador é o
bar Moisés, da 208 Sul. Estamos sempre lá. Lá nos encontramos pra
reuniões bêbadas filosóficas, reuniões sérias e burocráticas, bate-papos
aleatórios e tudo mais. O engraçado é que tem mais uns quatro grupos de
teatro da cidade que também freqüentam o local constantemente. Já temos
até nosso nome de grupo como "homenageados" no cardápio!
Quais os grupos de teatro de Brasília vocês conhecem e admiram?
Admiramos o trabalho de grupo e
atuação política na cidade do Teatro do Concreto, e do Udigrudi por sua
perseverança e beleza. E também temos "grupos amigos" como o LPTV e o
Teatro Caixote. Acreditamos que a arte teatral brasiliense evoluiu muito
nestes últimos anos, com a criação de tantos coletivos que buscam um
trabalho continuado.
Sobre as festas do grupo: por que existem, como são, qual a próxima? Cada festa-peça (ou peça-festa) é muito diferente da outra?
É interessante explorar o
universo que nos levou a montar uma peça que não termina, que continua
em uma festa. Isso seria uma conversa para o dia inteiro. Mas, em suma,
queríamos unir estes dois públicos em um só lugar de criação estética.
Tem dado certo, os apreciadores de teatro têm frequentado as festas
todos os sábados, praticamente, e os baladeiros da cidade, assistido a
um espetáculo teatral, com um formato de festa. Elas são festas
temáticas. Cada sábado uma festa com um convidado e um tema diferente. A
penúltima foi ULTRA! LIBRE, com um dos DJs (o diretor do espetáculo)
tocando com uma máscara de Lucha Libre.
Continuamos na festa em estado
performático. Tem sido muito legal e as pessoas tem se divertido muito.
Neste próximo sábado (dia 27 de outubro) teremos a Ultra! RockXXX, na
qual os djs trarão um set roqueiro pra sacudir a ratoeira do Conic.
Vocês
acham que existem espaços suficientes - em quantidade e qualidade -
para o teatro e a cultura em geral aqui? Como veem a produção cultural
na cidade?
Acreditamos que temos muitos
espaços interessantes na cidade, mas, por outro lado, a manutenção deles
deixa muito a desejar. Os grandes teatros da cidade estão em uma
situação delicada. E quanto a cena cultural brasiliense, tem crescido
vertiginosamente, com uma política de fomento horizontalizada do FAC,
isso tem se tornado mais factível a cada dia. Além de vários outros
fatores, evidentemente, as iniciativas têm sido cada vez mais elaboradas
e o teatro de grupo que pesquisa, está em voga na cidade.
O Conic já foi tema de tese, debatido e cantado em verso e prosa. Como é usar um espaço alternativo e como tem sido a receptividade?
Usar o espaço do Conic para
esta peça foi como colocar uma luva no tamanho exato da sua mão. Não
enxergamos na cidade um espaço que case de forma tão adequada com a
proposta estética escolhida. O lugar é uma taverna, a taverna que está
como pano de fundo na nossa dramaturgia. E a receptividade, bem, não
temos como mensurar muito, mas até onde sabemos e conversamos tem sido
muito boa. As pessoas ficam impressionadas como fizemos um corredor
virar um espetáculo polido. E tem os elementos do espaço, as baratas,
por exemplo, que quase sempre frequentam as nossas apresentações, mas
discretamente passam para suas casas, sem causar alvoroço.
O
trabalho de vocês é muito diferente e passível de ser incompreendido.
Já aconteceu alguma reação ou ação inusitada no meio de uma
apresentação?
Sim, realmente já aconteceu. Em
uma temporada de estreia de A Cartomante, um senhor levantou no meio da
peça e foi embora e falou em alto e bom som: "eu achei que eu ia ver
Machado de Assis" e foi embora. Estava em uma hora de interação da peça,
quando ele falou isso. Realmente, o que vocês verão nos nossos
espetáculos não é Machado de Assis, nem Álvarez de Azevedo, será o
Liquidificador. As nossas leituras sobre estes autores, sobre os
elementos que os compõem como ícones importantes da Literatura
Brasileira. E sim, temos também na Cartomante, digressões,
metalinguagens e ironias machadianas. Temos no ULTRA-ROMÂNTICO as
histórias dos contos, as temáticas, a visão de um jovem escritor sobre o
mundo que o cerca. Mas temos também, jogos, brincadeiras que "amolecem"
tudo. Afinal, o publico verá teatro, não literatura em cena.
Quais são os próximos passos do Liquidificador?
Iremos continuar o nosso
trabalho de pesquisa sobre Brasília e seguiremos com a nossa próxima
montagem sobre Violência, antes de completar nossa trilogia literária
que será finalizada com O Cortiço, de Aluízio Azevedo.
O que não dá para misturar nesse Liquidificador?
NADA, ABSOLUTAMENTE. Para os
nossos processos de criação nos despimos de qualquer preconceito e
alienação. Os ingredientes desta mistura são ilimitados, estamos abertos
a quaisquer um deles. Entretanto, nesse processamento de elementos
colocamos a nossa marca, leitura, impressão, etc. Isso é o processo de
liquidificar e misturar os nossos elementos pessoais, referências,
literatura, brega, pop, kitsch, cult e por aí vai..
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