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sexta-feira, 11 de abril de 2014

ENTRE QUARTOS - Crítica do primeiro espetáculo do Grupo Tripé



Estréia hoje na cidade o espetáculo Entre Quartos, o primeiro trabalho do Grupo Tripé.
A peça apresenta a relação de quatro pessoas confinadas num apartamento.


Tive a oportunidade de assistir a pré-estréia e me deparei com um espetáculo extremamente sensível e de uma personalidade toda própria. Apesar do início do espetáculo me parecer um pouco duro, formal ou com impostações de voz um tanto arfante, logo comecei a me envolver mais com este trabalho que vai mostrando o quanto os atores estão inteiros e de peito aberto, colocando pra jogo seus próprios universos pessoais numa arena em que o público pode compartilhar de sensações bem intimas.
Os quatro atores em cena são todos muito jovens, mas já demonstram uma carga e uma potência dramática de jovens veteranos da cena. Eles desempenham seus próprios dramas e conflitos geracionais num formato muito generoso, sutil e tranqüilo, mesmo com todo o nervosismo de estreia.



Os quatro atores deixam claro para o espectador a intimidade que tem entre si, não só em cena, mas na vida. O jogo de diálogos corre de maneira muito natural, ora cômico, ora dramático, ora reflexivo, sempre mantendo vivo o ritmo afiado capaz de prender o espectador por puro magnetismo. Destaco a presença de cena de Davi Maia e Gustavo Haeser, os dois em seus monólogos ou diálogos conseguem por diversas vezes uma forte potência emocional. Gustavo inclusive, nos proporciona um lindo texto de cargas e camadas dramáticas potentes no clímax final da peça que é imperdível. Os laços afetivos entre os quatro, põe em cheque as tão citadas relações líquidas contemporâneas que não parecem ser tão líquidas neste trabalho, nos fazem pensar, como espectadores, em diversas possibilidades de amor e reafirmam a posição de protagonismo do teatro em potencializar encontros afetivos demasiadamente humanos.


Eu poderia dizer que a Iluminação e a Música do espetáculo são um show a parte, isto se estes dois elementos não fizessem parte do espetáculo de forma tão rara. A luz criada pela atriz e iluminadora Ana Quintas é parte essencial para o desenvolvimento das ações, em poucos espetáculos que assisti em minha vida vi uma dramaturgia da luz sendo desempenhada de forma tão contundente. Demonstra claramente o quanto que a luz estava presente na gênese de cada cena e de fato denota uma construção colaborativa deste elemento. A música fica por conta de composições do ator e músico Miguel Peixoto, outra condução essencial para a costura dramatúrgica, além do exímio desempenho e uma linda voz/entonação com forte presença instrumental.
Os figurinos e cenário estão muito bem afinados esteticamente. A figurinista Fernanda Alpino e a cenógrafa Maria Vitória Dutra tem um ótimo diálogo entre si e com a proposta.


Recomendo a todos que compareçam ao Teatro Adolfo Celi na Casa D’Itália para conferir este que será o primeiro de muitos trabalhos do belo Grupo Tripé. Vida longa ao teatro de grupo da cidade e uma grande carreira a estes pequenos notáveis que vêm pra ficar!


Fernando Carvalho

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