Estréia hoje na cidade o espetáculo
Entre Quartos, o primeiro trabalho do Grupo Tripé.
A peça apresenta a relação de
quatro pessoas confinadas num apartamento.
Tive a oportunidade de assistir a
pré-estréia e me deparei com um espetáculo extremamente sensível e de uma
personalidade toda própria. Apesar do início do espetáculo me parecer um pouco
duro, formal ou com impostações de voz um tanto arfante, logo comecei a me
envolver mais com este trabalho que vai mostrando o quanto os atores estão
inteiros e de peito aberto, colocando pra jogo seus próprios universos pessoais
numa arena em que o público pode compartilhar de sensações bem intimas.
Os quatro atores em cena são
todos muito jovens, mas já demonstram uma carga e uma potência dramática de
jovens veteranos da cena. Eles desempenham seus próprios dramas e conflitos
geracionais num formato muito generoso, sutil e tranqüilo, mesmo com todo o
nervosismo de estreia.
Os quatro atores deixam claro
para o espectador a intimidade que tem entre si, não só em cena, mas na vida. O
jogo de diálogos corre de maneira muito natural, ora cômico, ora dramático, ora
reflexivo, sempre mantendo vivo o ritmo afiado capaz de prender o espectador
por puro magnetismo. Destaco a presença de cena de Davi
Maia e Gustavo Haeser, os dois em seus monólogos ou diálogos conseguem por
diversas vezes uma forte potência emocional. Gustavo inclusive, nos proporciona
um lindo texto de cargas e camadas dramáticas potentes no clímax final da peça
que é imperdível. Os laços afetivos entre os quatro, põe em cheque as tão
citadas relações líquidas contemporâneas que não parecem ser tão líquidas neste
trabalho, nos fazem pensar, como espectadores, em diversas possibilidades de
amor e reafirmam a posição de protagonismo do teatro em potencializar encontros
afetivos demasiadamente humanos.
Eu
poderia dizer que a Iluminação e a Música do espetáculo são um show a parte,
isto se estes dois elementos não fizessem parte do espetáculo de forma tão rara.
A luz criada pela atriz e iluminadora Ana Quintas é parte essencial para o
desenvolvimento das ações, em poucos espetáculos que assisti em minha vida vi
uma dramaturgia da luz sendo desempenhada de forma tão contundente. Demonstra
claramente o quanto que a luz estava presente na gênese de cada cena e de fato
denota uma construção colaborativa deste elemento. A música fica por conta de
composições do ator e músico Miguel Peixoto, outra condução essencial para a
costura dramatúrgica, além do exímio desempenho e uma linda voz/entonação com
forte presença instrumental.
Os
figurinos e cenário estão muito bem afinados esteticamente. A figurinista Fernanda Alpino e a cenógrafa
Maria Vitória Dutra tem um ótimo diálogo entre si e com a proposta.
Recomendo
a todos que compareçam ao Teatro Adolfo Celi na Casa D’Itália para conferir
este que será o primeiro de muitos trabalhos do belo Grupo Tripé. Vida longa ao
teatro de grupo da cidade e uma grande carreira a estes pequenos notáveis que vêm
pra ficar!
Fernando Carvalho
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