Saber de si pode ser violento porque falar de suas descobertas sobre si e ser desqualificado é muito mais violento ainda.
É de bom tom não falar muito sobre si. Primeiro
porque não é assunto que dure, francamente. Depois porque não interessa tanto
assim ao outro. Verdadeiramente não. O pessimismo neste caso está tão próximo
da realidade, quanto o otimismo do desespero. Quem fala, fala, fala de si não
será perdoado pelos ouvidos alugados. Não se iluda, apenas se toque.
Quem se importa com suas descobertas pessoais
interiores verdadeiramente, sem pegar sua fala e transformar em um exemplo
pessoal para roubar o foco, com verdade e generosidade legítimas, já morreu. Não
nasceu. Nem existiu.
Saber que você será sempre a segunda pessoa para o
outro (se tiver sorte...), que a única pessoa para quem você é prioridade
máxima é pra você mesmo é bastante desolador. Sua história triste tão
interessante é só sua. “Só o prazer é compartilhável, a dor é individual.”
Pessoal, intransferível... Como a morte.
Há um tempo em que o sujeito precisa saber
identificar o que é amizade e o que é condescendência. Ou saber que ambas são
uma mesma coisinha. O homem é um bicho só e social. A mulher também. Se você
não é capaz sozinho não será capaz de maneira nenhuma. Há quem não consiga
olhar para si no espelho profundamente sem sentir medo. Há quem não consiga olhar
para si no espelho e dizer: Eu sou fulano de tal. O espelho não é seu amigo e
tampouco será condescendente.
A solidariedade é uma coisinha inventada pelo
sistema capitalista para engambelar os pobres e salvá-los da extinção. Assim
como a honestidade. Só se aplica a eles mas tem rico que cai às vezes. O amor
não. O amor é outra coisa. Se você sente machuca, se o outro sente ele que se foda
e vive versa.
Ainda há uma hipótese remota sob a chuva, escorrendo
para alguma boca de lobo, sobre sua tendência em achar que neste momento alguém
pensa em você. Você pode acreditar nisso ou tomar alguns comprimidos. Importante
saber que ninguém quer saber da sua porção dor e da sua porção euforia só aos
fins de semana com álcool e som automotivo no estacionamento do super. É por
fim um soco no estômago libertador.
Pois eu gostaria de ser extremamente inconveniente,
agora que todos estamos livres para não nos importamos mais com ninguém, sem
formalismos instituídos. Serei agora inconveniente e despejarei aqui as minhas
mais novas descobertas pessoais totalmente desinteressantes. Vou ferir sua
integridade moral contando aqui agora, com todas as palavras, nos mínimos
detalhes minha experiência pessoal, quando colocada frente a frente com outra
pessoa, fui confrontada com a seguinte pergunta:
QUEM É VOCÊ QUE ESTÁ AÍ DENTRO NESTE MOMENTO? choro
convulsivo durante 40 segundos.
Eu sou um balão eu sou uma enxurrada eu sou uma
panela vazia eu sou um girassol eu sou mãe eu sou confusão eu sou som alto eu
sou frágil eu sou agressiva eu sou água de torneira eu sou borboleta eu sou
tubarão eu sou você que me fita eu sou ontem eu sou destruição eu sou panela
cheia eu sou banana madura eu sou experiências eu sou cor de rosa eu sou murcha
eu sou pipa eu sou urso polar eu sou egoísta eu sou lágrima eu sou filha eu sou
meu carrasco eu sou raiva eu sou lápis de cera eu sou brigadeiro de colher eu
sou perdão eu sou azia eu sou o fim da picada eu sou perfumada eu sou girassol...
E aí acabou o tempo. Agradeci a quem me ouviu porque
me pediram. Mas foi de coração. A dor é de cada um, só. Mas a poesia cura.
Ana Tirana
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