Dia da costureira
Ela ria e girava tonta na rua
Nua sacodia o corpo
Espalhava sucata, entulho de histeria
Entupia as bocas de lobo
Ela ria e não entendia
Não pagaria mais, nem mataria por amor
Só girava a gastura, o entojo, a paúra
Num breve espaço entre a demência e o torpor
Ela ria e pedia licença
Nua, sucata, restos
Dura de frio entupida de alma
Ria chorava e enchia a vida
Num copo de tempestade e calma
Ela ria o filho, o pai, o pai do filho e o espírito
santo
O luto permitido pelo fruto proibido
Rodopiava com a pilha de louça, a pilha de trapos
Tudo espalhado com chiado, com cheiro de feijão
queimado
Ela ria rodando os olhos, a boca, os ouvidos
Nua girava louca
Girava o choro do menino
O riso da boneca
O chiado da panela
O som alto do carro
A fala falha do gago
O latido da cadela da vizinha
A noite virando dia e a cegueira da loucura
Regendo a sinfonia
Imitando uma buzina
Ria girava nua, buzina
Solta na barranqueira, buzina
Nada mais que me importa, buzina
Hoje é dia de feira, buzina
Domingo pede cachimbo, buzina
O sonho espalhado da costureira recolhido no
caminhão
Ria e morria na rua
Um julgava com dó
Outro julgava com nojo
O que julgava chocado, não com a vida atropelada
Com a fragilidade do corpo
O Sol firmava lento
O dia engrenava cedo
Atenção dissipava logo
Ela jazia
Ria de si rainha
Pra qualquer mosca rondando aquele hoje sempre.
Ana Tirana
estupendo
ResponderExcluirGracias.
ExcluirBom, muito bom mesmo. Adorei!
ResponderExcluirNossa!!! Parece que estou lendo sobre minha avó..
ResponderExcluirMuito bom!!
super curti. momentos ate perdi respiração kkkk
ResponderExcluirGracias amigos!
ResponderExcluirGostei dessa Ana Tirana aí! Quero mais!!
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