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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Violensia: subs. poema de cunho violento, agressividade poética, horror em verso, rimas malditas.



Dia da costureira

Ela ria e girava tonta na rua
Nua sacodia o corpo
Espalhava sucata, entulho de histeria
Entupia as bocas de lobo
Ela ria e não entendia
Não pagaria mais, nem mataria por amor
Só girava a gastura, o entojo, a paúra
Num breve espaço entre a demência e o torpor
Ela ria e pedia licença
Nua, sucata, restos
Dura de frio entupida de alma
Ria chorava e enchia a vida
Num copo de tempestade e calma
Ela ria o filho, o pai, o pai do filho e o espírito santo
O luto permitido pelo fruto proibido
Rodopiava com a pilha de louça, a pilha de trapos
Tudo espalhado com chiado, com cheiro de feijão queimado
Ela ria rodando os olhos, a boca, os ouvidos
Nua girava louca
Girava o choro do menino
O riso da boneca
O chiado da panela
O som alto do carro
A fala falha do gago
O latido da cadela da vizinha
A noite virando dia e a cegueira da loucura
Regendo a sinfonia
Imitando uma buzina
Ria girava nua, buzina
Solta na barranqueira, buzina
Nada mais que me importa, buzina
Hoje é dia de feira, buzina
Domingo pede cachimbo, buzina
O sonho espalhado da costureira recolhido no caminhão
Ria e morria na rua
Um julgava com dó
Outro julgava com nojo
O que julgava chocado, não com a vida atropelada
Com a fragilidade do corpo
O Sol firmava lento
O dia engrenava cedo
Atenção dissipava logo
Ela jazia
Ria de si rainha
Pra qualquer mosca rondando aquele hoje sempre.

Ana Tirana

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