Crítica de Mônica Vieira Braga
Se fosse possível atribuir uma idade ao Ultrarromantismo, ele seria um adolescente.
Isso porque se perceberia uma mente infantil, que quer tudo, na hora desejada, no local
em que se consolida a urgência e na intensidade máxima possível, dentro de um corpo de
um adulto, que viabiliza a realização de tantos quereres. Ainda bem que tudo isso fica na
adolescência, não é mesmo? Imagine viver nessa velocidade a vida inteira? Afinal, tornar-
se adulto é aprender a domesticar o desejo. Pois é, muita gente não se propõe a isso. Hajam
visto os escritores românticos do século XIX: transformaram o desregramento em objeto de
apreciação estética.
Foi com essa atmosfera que o grupo Liquidificador preparou um drink delicioso. O
ponto de partida para o espetáculo “Ultrarromântico” é a obra de Álvares de Azevedo, “Noite
na Taverna”, que fornece à montagem uma sustentação poética e uma aura de “tempos
antigos”, sem, contudo, engessar o trabalho da equipe. Esta se lançou no desafio de adaptar
algumas partes da obra para uma linguagem mais atual, tornando-a mais palatável, sem,
entretanto, tirar do público a possibilidade saborear a ambientação original da obra.
Todo o aparato cênico ajudou a elaborar ante aos olhos dos espectadores a expressão
máxima de todo o lado mais dionisíaco do ser humano. Afinal, realizar um espetáculo no
subsolo do Conic, com um figurino punk, cigarros, bebidas e cenas inteiras passadas em
cima ou no interior de um container de lixo é trabalho de muita entrega. Aliás, os atores se
mostraram muito capazes tanto na construção/desconstrução do texto de Azevedo, quanto
na proposição de ações cênicas que evidenciaram com clareza a compreensão da tônica
do movimento literário romântico: a liberdade. Na medida certa, sem cair no mau gosto,
protagonizaram cenas que não eram homoeróticas: as mulheres que se tocavam e os homens
que se beijavam não eram, na verdade, homens e mulheres, e sim, corpos entregues à lascívia.
Ponto para o grupo, que apimentou a composição sem torná-la difícil de digerir.
Para tornar a ação ainda mais concreta aos espectadores, o espetáculo continua
quando termina. Uma festa se desenvolve no próprio ambiente cênico e com a equipe. Se se
tornar adulto é aprender a domesticar os desejos, creio que voltei à adolescência no último
fim de semana, pois não estou controlando minha vontade de que chegue novamente o
sábado para que eu possa tomar outro drink com o pessoal do Liquidificador. “Taverneira!
Traga-me mais vinho!” Cheers, my friends!
Mônica Vieira Braga
licenciada em Língua Portuguesa e respectivas Literaturas pela UnB
professora de literatura há 12 anos na rede privada do DF