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domingo, 24 de fevereiro de 2013

REGULAMENTADA A PROFISSÃO DE GUARDADOR DE CARROS!


REGULAMENTADA A PROFISSÃO DE GUARDADOR DE CARROS!



posso me orgulhar da minha profissão
BEM CUIDADO AÍ, BROTHER!!!


Imagino um homem
Doisinho pro leitinho das criança.

posso me orgulhar da minha profissão

Doisinho pro leitinho das criança.

Um homem


Dois real. O que é dois real? O que é dois real pra você playboy?
Não vê que estou na merda?!


Ah, você não tem nada ver com isto...

Imagino a situação
Da pra ver na sua cara.

posso me orgulhar da minha profissão

Eu guardei o seu carro.

Sua linguagem
Expressão.
Guardei o seu carro.


Guardei o seu carro.


FIQUEI AQUI PARADO
PARADO
PARADO
ESTE TEMPO TODO
OLHANDO O TEU CARRO
SÓ PRA TOMAR UMA DOSE DE
PINGA.

PORRA, não vê que estou trabalhando! TRABALHANDO!
Alguns minutos de alegria ali no bar do seu Aloísio.




Estes filhos da puta não respeitam mais ninguém. Não respeitam mais um trabalhador como eu. Não respeitam mais um legítimo guardador de carros.

BEM CUIDADO AÍ, BROTHER!

Se eles se dessem ao luxo de me
respeitar,
mas não:
Preferem ostentar aqueles carrões.
Aqueles carrões importados.
Filhos da puta desumanos.


Estes objetos não significam nada.


Estão colocados ali para não significar nada, embora já signifiquem alguma coisa a partir do momento em que eu falo “estes objetos não significam nada”.
Matar não significa nada.
Talvez.


VÁ A MERDA SEU BOSTA!


Estou trabalhando!

Um homem.
SE VOCÊ NÃO SABE O QUE É ISTO, PACIÊNCIA

Estes playboys não sabem o que é dar duro, o que é trabalhar o dia inteiro aqui.

Eu trabalho pra caralho, me fodo todo para garantir o pão no final do dia.

Estes playboys podem morrer

Podem morrer

Que diferença não faria nenhuma.


O guardador de carro vê o mundo assim:
como um bloco só.
Como um “significar nada”.

Um amontoado de bugigangas formando uma massa metálica de vazio e perda de tempo. Um silêncio oco entre os indivíduos. O guardador vive nas lacunas entre o sair de casa e o voltar pra casa. Eles atravessam a vida das pessoas sem nunca significar alguma coisa para elas. Não significar nada para eles é sobrevivência.



(trecho do texto "a multidão num mínimo espaço de fúria e medo" de Alexandre França)




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