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sábado, 23 de junho de 2012

Nada é de brinquedo quando alienígenas ameaçam nossas jujubas!!!



Peça com Kael Studart, integrante do Grupo Liquidificador 




Data: 2 de Junho a 1º Julho.
Hora: Sábados e Domingos às 16h.
Local: Teatro do Brasil 21 Cultural – Complexo Brasil 21 – Sala 3.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

#01

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Liquidificados... Ricardo Rosa e Kael Studart

Até o final da semana passada, este blog estava repleto de postagens de queridos convidados. Terça passada, que é meu dia de postar, meu amigo Ricardo Rosa fez um conto para inserir aqui. Mas em crises comuns de autor, ele não tinha um final por conflitos morais. Ou algo do tipo. Ele me explicou isso eu não estava 100% neste planeta, por isso, eu não lembro exatamente os causos. Mas lembro de algo do tipo "vamos finalizar juntos".
O caderninho com o conto ele deixou na minha casa. Peguei, li e, por falta de um encontro formal pra finalizar o texto, resolvi estuprá-lo (o conto) e finalizar sozinho. 
Ricardo, caso se sinta ofendido por não ter tido oportunidade de opinar, ou de não ter gostado do destino que dei aos personagens, você tem a liberdade soberana de remodificar o post.

Então... Vamos a ele!

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Conto Sem Título

Era uma dessas noites de frio cortante, quando nem os grilos se aventuram a cantar. Havia um homem sentado numa parada de ônibus. Fazia o possível para se esquentar numa noite tão fria, enquanto carros apressados cortavam a quietude de sua solidão. Se o visse, notaria que esse homem tinha uma feição distante, olhos de quem poderia esperar ali por décadas. E ali ele ficou, enquanto a cidade se movia, ele ficou ali parado e observando. Seus olhos eram os de quem remoia algum sentimento do passado, olhos de quem tem raiva de si mesmo.
Se nesse momento você passasse por essa parada e visse esse homem, provavelmente se assustaria pois seus olhos pareciam tramar algo terrível. Mas isso não era verdade. Ele apenas lembrava de seus amigos e de dias mais ruidosos. E um tímido sorriso brotava de sua face. Mas isso logo ia embora e ele praguejava a demora do ônibus. Distraído em suas memórias, foi trazido à tona pelo absurdo barulho do ônibus chegando.
Sem provocar o mínimo ruído, entrou no ônibus, pagou, e seu silêncio foi brutalmente interrompido pela catraca e pelo urro do grande ônibus. Sentou-se. Mas ainda havia um silêncio nele, um denso silêncio como uma noite de neblina. Na verdade, o Estrondo Absurdo dos movimentos do ônibus tornavam esse silêncio ainda mais profundo e impossível. Era um silêncio tão persistente que ele podia falar em voz alta e isso não passaria de um mero sussurro para quem ali estivesse.
 Esse homem parecia agora gradualmente mais apreensivo e ansioso à medida que o ônibus se aproximava do seu destino. Estava visualmente incomodado com aquela melancolia amarga que incomoda no coração.
E ia, que como um cão que percebe a proximidade do dono. Levantou-se de sobressalto e puxou a cordinha dando sinal para parar. Quase se arrebentou com a brusca freada, mas logo já estava caminhando rumo ao seu destino. Pela hora não conseguiria outro ônibus que o levasse até a Asa Norte, o que significava (?) parar na Esplanada e caminhar o resto do trajeto. O que não lhe incomodava de jeito nenhum. Muito pelo contrário. Essa caminhada lhe daria a paz de que precisava, pensava ele. E lá ia ele caminhando por alguns lugares que mais pareciam abandonados do que partes de alguma coisa. Permanecia em completo silêncio, mas algo em suas feições parecia tranquilizar-se à medida que caminhava.
Andava sem a menor pressa. Usava esse momento pra pensar um pouco, e isso o impunha ora uma irritação enérgica, ora uma alegria leve. Foi assim caminhando nessa bipolaridade por aproximadamente uma hora antes de chegar ao seu destino. Como era de se esperar, o fim da via cruzes, era um bar. Não havia nada de especial nesse bar. Talvez, apenas as pessoas e suas histórias. Fora isso, um barzinho pé-sujo e sem-vergonha. Ele se aproximava com cautela, mantinha distância como um caçador experiente.
Foi então que a avistou. Charmosa como sempre! Mas havia algo de diferente em seu jeito de ser. Parecia alheia às conversas e burburinhos que lhe cercavam, mesmo que participasse com risos e comentários. Algo a incomodava, mas ela era boa em disfarçar essas coisas. Não dele. Nunca dele. Ele a conhecia profundamente e sabia que havia algo errado, mas preferia observar o desfecho ao interferir. Decidiu aproximar-se do balcão do bar discretamente para não ser notado. Realmente precisava de uma cervejinha.
Não passou muito tempo até que um grupo de pessoas chegasse à mesa dela. Reconheceu alguns rostos, mas nenhum lhe chamou atenção. Permaneceu distante pois notou que ela estava ancorada no celular pot muito tempo... Esperava por alguém.
A conversa ao telefone a angustiava. Suas sobrancelhas não conseguiam escondê-lo. Ele novamente vai ao balcão pedir outra cerveja para que não o vissem.
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Bebeu-a silenciosamente em uma virada de copo apenas, como de costume. Cada copo, um gole. Cada silêncio, uma garrafa. E, a cada nível emergente de embriaguez, menos invisível ele era. Isso ele não podia evitar, por mínimo que fosse o teor alcoólico da cerveja, por mais tolerância que tivesse às drogas.
Já cansado de bebericar no copo, levou a garrafa de litro à boca, que grudou como uma ventosa. Uma garrafa na vertical, de ponta-cabeça, despejando sua cevada líquida e de baixo teor na cabeça rígida e tolerante, inclinada na horizontal. Esse era seu quadro preferido. Perpendiculares em sua composição geram loucura e alucinação ao resto do corpo que a sustenta. Um corpo arqueado e imerso naquela elegante sensação que é o voo alcoólico. Quando, ao tomar uma larga escala de morte-lenta, a cabeça continua girando para traz até atravessar as costas e regressar ao ponto inicial. Tudo isso, para pensar (silenciosamente) apenas nela, em nada mais.
Finda o denso e extravagante gole. O corpo volta à postura ereta de homo sapiens regular, tonto, mas civilizado. Ele olha para o lado e a enxerga. Ela o encara a uma distância de apenas 5 metros. 5 metros!  Ele a acompanha com os olhos, a desnuda à distância e afaga seus cabelos secos e modernos. Ela parece fixada nele e, o que havia entre os dois, era uma densa camada de eletricidade radioativa. Era o que ele via. E tudo estava inerte, o tempo dilatou-se em centenas de anos. Mas, o primeiro milésimo de segundo desde a primeira olhada em que seus olhos fecharam para lubrificar os olhos desidratados, foi o suficiente para perder controle do magnetismo. Impressionantemente, o tão breve e insignificante momento de escuridão de uma piscada, foi o tempo certo para deixar de acompanhar os movimentos que ela deu para perder o olhar e dar dois passos em direção ao banheiro.
Desiludido e com os olhos pouco mais lubrificados do que o normal, silenciosamente botou a garrafa de litro no balcão, pagou a conta das duas cervejas e seguiu andando. Na sua longa, silenciosa e solitária caminhada pensou nela. Fez juras de amor ultrarromânticas, uivou seu choro infeliz e praguejou contra si. Arrastou-se pelos terrenos baldios do centro. Atravessou cercas, pulou buracos profundos e subiu os degraus de um edifício em construção. Chegou ao terraço e deitou-se ao frio do vento que venta o topo de todo edifício. Lá mesmo ele dormiu coitado e inofensivo. E delirou repetidamente a promessa de nunca, nunca mais piscar, para que nenhum desgraçado milésimo de segundo arruinasse um possível segundo contato com ela.



terça-feira, 19 de junho de 2012

A TAVERNA VIRTUAL



        Esses dias estava eu lendo sobre o caso Miami Zombie. Como geek que sou, tive um grande entusiasmo na hora, pensando em zumbis apocalípticos e na coisa toda quando me apareceram dois outros casos parecidos: dois jovens que comeram partes de seus colegas. De súbito a euforia foi gerando um certo mal estar; estava tudo indo longe demais. Na hora passei a ler sobre e não me surpreendi quando me apareceu outro ainda pior, sobre um jovem ator pornô gay, que matou o rapaz com quem dividia apartamento e colocou o vídeo na internet. 
        A repulsa é grande, mas a curiosidade é maior. Sou desses que gosta de saber sobre seus gostos e seus fetiches mais estranhos e entender sua percepção. A psiquiatria teria me caído bem. Recorri a um fórum multimidia mundial onde tudo é postado a todo tempo. Os casos já estavam lá, integrantes já tinham hackeado o rádio da polícia de Miami e colocado a dispor de quem se interessasse. Havia o medo de novos casos, haviam pessoas montando grupos de invasão ao hospital para matar as vítimas sobreviventes e assim encerrarem o vírus. Havia gente bem mais preocupada que eu.
          Foi necessário o CDC dos Estados Unidos enviar uma nota de alerta, dizendo que não havia até então um vírus capaz de "reanimar corpos inanimados". Descobriram que o motivo do primeiro caso era uma nova droga fortíssima, que ao ingerida elevava muito o calor do corpo até as pessoas perderem a sensibilidade a dor. Daí o homem ter sido achado nu e sido necessário seis balas para morrer e parar o ataque. Mas não seria isso uma espécie de zumbi? Então o segundo caso aconteceu.
Nesse ponto e com a curiosidade quase explodindo, fui atrás de mais. E se essas histórias todas não fossem tão irreais assim? Comecei a pesquisar, mas parecia alcançar lugar nenhum. Entrei em contato com pessoas do fórum, que foram me mostrando e indicando, até que um perguntou se eu já tinha acessado o "outro lado da internet". Ao dizer que não, passaram-me um programa adequado, que muda o IP a todo instante impedindo o rastreamento e abre um navegador próprio, possibilitando assim a entrada nessa "outra internet". Pesquisando um pouco achei que a parte da internet mais usada é toda aquela que poda ser rastreada e catalogada por sites de busca e afins, enquanto tudo do outro lado não. A começar pelo seu endereço composto por várias letras em total falta de nexo e sua terminação que não é em .com e em nenhuma conhecida.
         Entrei. E é aí que começa essa história.
         Nos primeiros passos recomendaram-me ingerir algo alcoólico pra relaxar um pouco, para digerir melhor o que viria a seguir. Não perguntaram meu nome, nem me disseram os deles. Pelo contrário, deram-me um pseudônimo com login e senha para acessar os mais diversos fóruns e os mais diversos assuntos que tinham aparência de html antiga, lá de 1995. Só sabia que ambos pertencem a um grupo de invasão hacker e trabalham desmascarando a identidade dos malfeitores do "outro lado". Uma breve explicação dizia que as palavras mais pesquisadas em sites de busca eram "sexo" e em segundo lugar "estupro" e daí eu já poderia tirar uma outra face das pessoas. Não estava preparado para o que estava por vir.
         Pensem num submundo, num beco escuro ou na falta de leis e censura. Pense em poder falar e fazer o que quiser, até aquele seu desejo mais íntimo. De colocar toda sua raiva pra fora, de comprar qualquer coisa, de fazer sumir e aparecer. Isso é o "outro lado da internet". Inicialmente me mostraram uma espécie de catálogo do saber, como uma Wikipédia, porém secreta. Lá tudo era descrito e catalogado de acordo com seu país e/ou seu tema. Todos, dos mais diversos. Temos pirateado todos os livros, todas as músicas, todos os filmes. Bibliotecas e mais bibliotecas inteiras ao dispor de um clique. Filmes raríssimos, cenas excluídas e centenas de terabytes de estudo. Sim! TERABYTES, o "outro lado" é 90% maior do que a internet que conhecemos. Muito bom para quem sabe e quer usar, se essa parte não fosse ínfima. 
         A primeira parada foram documentos ensinando as mais diversas coisas: como encontrar dados de uma pessoa usando apenas nome e endereço, como montar as mais diversas armas e bombas, como fazer venenos e também uma página dedicada a fotos estranhas. Levaram-me a um fórum "sleepy" onde homens contavam em detalhes suas experiências em fazerem sexo com pessoas dormindo, algumas naturalmente e a grande maioria por indução. Depois uma página de sado-masoquismo forte, de início permitido, mas depois nem tanto… E aí foi um poço sem fundo. Há um mercado negro de onde vendem de drogas a órgãos e também pessoas, tráfico humano. Sites de guerra com torturas explícitas em fotos e vídeos, principalmente em países do Oriente Médio. Assassino por encomenda. Estupros. Incestos. Câmeras instaladas em cadeias violentas. Fórum de cientistas e médicos que testam suas vacinas e doenças pela água de certas vizinhanças e colhem o dado de cada uma. Sites governamentais que ameaçaram rastrear minha localização (duas vezes), fóruns canibais onde colocavam fotos de suas vítimas e, acreditem, receitas de seus pratos prediletos. Existe até quem se oferece pra ser devorado, escolhendo a parte, horário e local romanticamente, como um encontro de amor.
        Já estava com eles por seis horas, quando me perguntaram se eu queria ir mais a fundo. Que aquilo ali ainda era pouco, havia mais. Pensei por um instante e resolvi ir adiante, que eu conhecesse logo tudo de uma vez, não imaginava coisas piores do que já tinha visto ali. Estava enganado.
        90% de todo o material de pedofilia sai dali. Zoofilia do mais diverso e absurdo tipo. Canibalismo dedicado a partes íntimas (o vídeo do homem comendo o próprio pênis com feijão ficará na minha mente por um bom tempo). Rituais das mais diversas seitas, com cenas dignas de um filme de horror. Ao me apresentarem um de necrofilia com humanos e animais, achei o vídeo do ator pornô gay. Um ato absurdo, unindo psicopatia+necrofilia+canibalismo num mesmo vídeo, ao som da mesma trilha do filme Psicopata Americano. Uma tentativa de Patrick Bateman levado as extremas, mostrando que foi tudo extremamente calculado. De repente vi que as histórias fantásticas não são tão fantasiosas assim e o que dificilmente acreditamos pode ser bem plausível. Disseram que ainda tinham de me apresentar o Coliseu, onde homens lutam até a morte e o fórum killer, onde para entrar é preciso enviar um vídeo seu matando alguém e há um ranking para a morte mais brutal. Preferi não ver, não mais.
        Já cansado após 12h vasculhando o esgoto da mente humana, vi a foto da vítima do Miami Zombie: um mendigo com rosto desfigurado e sem um olho, e aquilo já não me causou tão mal estar como antes, não depois de tudo o que eu tinha visto. Será que é esse o efeito? Começar a ver uma "normalidade" onde não tem? Não dizendo que todos tem potencial de assassinos sádicos, mas observando em pequenos atos, será que assim também passamos a ser insensíveis aos problemas e necessidades alheios? Aquele ato que magoa alguém, aquela "coisa errada" que de primeira gera apreensão, mas da segunda nem tanto. Foi um choque. Um choque pra repensar a vida, as atitudes e observar melhor quem está ao seu lado.   
          Esse relato pode ser fictício. Ou não. Histórias de taverna.