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sábado, 12 de abril de 2014

Quem é o Inimigo, Quem é Você




como estruturar uma obra
se não temos um INIMIGO?

não ter inimigo
é algo que desampara demais...

militares, machistas, burgueses, cristãos, etc;
como é bom eleger um inimigo
e aí bater nele em suas peças!

como fica tudo mais fácil!

porque aí o artista se coloca como um objeto-vítima desse inimigo
e constrói sua obra em cima desta vitimização...

aí o SENTIDO da obra já está dado (e é obviamente reconhecível por todo mundo, "vítimas" que são...)
e o artista está eximido de perpetrar qualquer investigação profunda...

me recuso a localizar o inimigo FORA de nós;


precisamos entender que a estrutura de castração
é uma estrutura de LINGUAGEM.

não há nenhum INIMIGO
além de uma estruturação linguística
que nos determina.

falar contra INIMIGOS
como o patriarcado, a capitalismo, etc;
- ora, nada é mais alienado do que essa postura...

estamos atacando coisas
através de uma estruturação que sustenta essas mesmas coisas;
e com isso
estamos OBLITERANDO a EMANCIPAÇÃO
e dando prosseguimento à castração coletiva.

dentro desta estruturação linguística
o manifesto comunista e um comercial da coca-cola
são
exatamente
a mesma coisa
e nos mantém
exatamente
no mesmo lugar.




(texto plagiado, inventado ou mentido)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

ENTRE QUARTOS - Crítica do primeiro espetáculo do Grupo Tripé



Estréia hoje na cidade o espetáculo Entre Quartos, o primeiro trabalho do Grupo Tripé.
A peça apresenta a relação de quatro pessoas confinadas num apartamento.


Tive a oportunidade de assistir a pré-estréia e me deparei com um espetáculo extremamente sensível e de uma personalidade toda própria. Apesar do início do espetáculo me parecer um pouco duro, formal ou com impostações de voz um tanto arfante, logo comecei a me envolver mais com este trabalho que vai mostrando o quanto os atores estão inteiros e de peito aberto, colocando pra jogo seus próprios universos pessoais numa arena em que o público pode compartilhar de sensações bem intimas.
Os quatro atores em cena são todos muito jovens, mas já demonstram uma carga e uma potência dramática de jovens veteranos da cena. Eles desempenham seus próprios dramas e conflitos geracionais num formato muito generoso, sutil e tranqüilo, mesmo com todo o nervosismo de estreia.



Os quatro atores deixam claro para o espectador a intimidade que tem entre si, não só em cena, mas na vida. O jogo de diálogos corre de maneira muito natural, ora cômico, ora dramático, ora reflexivo, sempre mantendo vivo o ritmo afiado capaz de prender o espectador por puro magnetismo. Destaco a presença de cena de Davi Maia e Gustavo Haeser, os dois em seus monólogos ou diálogos conseguem por diversas vezes uma forte potência emocional. Gustavo inclusive, nos proporciona um lindo texto de cargas e camadas dramáticas potentes no clímax final da peça que é imperdível. Os laços afetivos entre os quatro, põe em cheque as tão citadas relações líquidas contemporâneas que não parecem ser tão líquidas neste trabalho, nos fazem pensar, como espectadores, em diversas possibilidades de amor e reafirmam a posição de protagonismo do teatro em potencializar encontros afetivos demasiadamente humanos.


Eu poderia dizer que a Iluminação e a Música do espetáculo são um show a parte, isto se estes dois elementos não fizessem parte do espetáculo de forma tão rara. A luz criada pela atriz e iluminadora Ana Quintas é parte essencial para o desenvolvimento das ações, em poucos espetáculos que assisti em minha vida vi uma dramaturgia da luz sendo desempenhada de forma tão contundente. Demonstra claramente o quanto que a luz estava presente na gênese de cada cena e de fato denota uma construção colaborativa deste elemento. A música fica por conta de composições do ator e músico Miguel Peixoto, outra condução essencial para a costura dramatúrgica, além do exímio desempenho e uma linda voz/entonação com forte presença instrumental.
Os figurinos e cenário estão muito bem afinados esteticamente. A figurinista Fernanda Alpino e a cenógrafa Maria Vitória Dutra tem um ótimo diálogo entre si e com a proposta.


Recomendo a todos que compareçam ao Teatro Adolfo Celi na Casa D’Itália para conferir este que será o primeiro de muitos trabalhos do belo Grupo Tripé. Vida longa ao teatro de grupo da cidade e uma grande carreira a estes pequenos notáveis que vêm pra ficar!


Fernando Carvalho

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma Noite de Amor com Marlon Brando - Parte III

Marlon Brando me disse:

EU QUERO TER UMA NOITE DE AMOR COM VOCÊ. 

Um milésimo de segundo se passa e um milhão de pensamentos eu tenho. 

- Seu Marlon Brando, eu fico muito lisonjeado com sua proposta. Mas eu não posso ter uma noite de amor com o senhor. (troca de sorrisos fraternos e constrangidos) Eu tenho que ir, mas nos vemos por aí. 
- Você é muito simpático, garoto. Vai com Deus. 

O lisonjeio foi sincero. A forma bonita de como a proposta foi feita e todo aquele encontro me deixou feliz. Aquilo me afetou de tal forma que, ao mesmo tempo que senti vontade de sair correndo, poderia ter ficado mais tempo conversando com ele. Talvez pela idade, pela grande divergência dos nossos mundos, ou pelo meu gosto comum, senti repulsa. Mas, ainda dentro dessa repulsa, ponderei os fatos e acho que me apaixonei por alguns minutos. Talvez por 5 segundos esitei meus passos adiante com a intenção de voltar. Por momentos imaginei nossa noite de amor e, por outros, questionei os porquês sim e os porquês não. Tanta diferença entre as vidas e as responsabilidades. Tudo tão distante. Mas algo muito em comum. 

Ainda tenho aquele momento como algo muito especial que aconteceu. O desejo de algo que ficará apenas na imaginação. Algo que ficará como uma boa imaginação a se sonhar. Já não acredito mais tanto numa velha frase - "me arrependeria muito mais por aquilo que não fiz."

Não foi uma proposta de um velho babão. Era um homem cheio de desejo e respeito. 

Seu Divino quando disse, quero ter uma noite de amor com você, era o Marlon Brando de carne, osso e desejo.