Chego em casa as 23 horas e 32 minutos de uma quarta-feira, que lá vai macilenta, me sinto tão suja, depois da cena do container de lixo que um banho não basta, me coloco de molho no banheiro até os dedinhos engenharem e lá fico. Amanhece!
Passo meu creme de lichia para o corpo, o de silicone para as mãos e o anti-idade no rosto. Coloco minha calça jeans piriquete, a blusa com os ombros caídos, o cinto rosa choque, jogo o cabelo pro lado e subo no meu salto 15 colorido. Coloco na minha trouxa o tênis escolhido pra morrer, a meia encardida, o short muchibento e a blusa manchada de Qboa. MANO, HOJE TEM...
Chego no ensaio, tiro cinto, blusa caída no ombro, prendo o cabelo, brinco, colar, salto, calça. Coloco meia encardida, tênis escolhido pra morrer, roupa muchiba e vamo nessa!
ENSAIA
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KAEL PROPÕE
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IZA PROPÕE
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KARINNE
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Lá pelas tantas, sentamos, recaptulamos. Cena, mais ordenada agora.
2 piratas lucha libre lutam com Bertram, eles morrem, caem no chão...
O lucha libre caindo no chão...
Depois do golpe de ouro do Bertram, o pirata tenta se defender daqui dali, mas não tem jeito. Momento de colocar a cara no canto, e para que conste, o canto é das baratas, vivas ou mortas, o canto é delas! Prefiro não olhar, até que solenemente, a máscara do lucha libre é retirada e minha cara fica no pó. Virando de barriga pra cima o pirata cabelo dá um grito... eu sabia!!!
Quando eu levanto, sinto cair do meu sutiã a areia, corre nas costas e pára no short.
DUELO DE MORTE - um bofetão e uma luva na cara traz nódoas que só podem ser lavados com sangue.
Quando?
AGORA
E as armas?
SABERÁS NO LOCAL
O lugar?
VENHA COMIGO, ONDE PARARMOS SERÁ O LUGAR.
Preciso rezar, é saudade de minha mãe.
Um brinde!
"Você vai dar 5 passos e cair no chão"
CAIO!
Em seguida sinto cair alguma coisa nas minhas costas. PRESIDENTE. Com as costas molhadas me esticam no chão... a esssa altura da noite, que já não vai macilenta, tomo um gole de Presidente para tirar o gosto de poeira da garganta.
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Vamos embora.
Meia hora pra juntar tudo.
Saio feliz do ensaio, imunda e feliz.
Preciso passar no mercado. Não tenho coragem, estou em uma situação de calamidade pública da cabeça aos pés. Mas, eu preciso mesmo, acabou o sabonete e há dois dias e eu tomo banho com o shampoo Sebastian Light.
Olho pra minha roupa. Qualquer descrição é meramente ilustrativa, precisariam ver para acreditar. O cabelo tá duro de poeira e hoje eu perdi minha tiara, então... Não bastasse, olho pros meus braços, qual não foi minha surpresa... a sujeira nos braços se aglutina em pontinhos. Não sei se orientada pelos poros, ou pelos buraquinhos dos cabelos. Mas são pontinhos pretos. Deveria ter fotografado, não faltarão oportunidades.
AO MERCADO
Inflo o pulmão com toda a auto-estima deste ser iluminado e entro. À medida que a luz do mercado se aproxima, eu percebo que estou bem pior do que imaginava. Minha mão está com uma luva marrom, e só o dedão ainda encontra-se branco. Paro. Penso. Lembro do preço daquele shampoo. Entro.
Não tinham muitas pessoas no mercado, mas as que tinham sabiam que eu tinha chegado e não exitaram em dispender alguns segundos das suas vidas para me fitar. A auto-estima joga meu nariz para cima. Pego as bananas, as maças e principalmente os sabonetes.
Vou para fila do caixa. Um tanto previsível que uma pessoa naquelas condições estivesse saindo com sabonetes. FODA-SE. Eu preciso da porra do sabonete.
"8,72, senhora". Abro minha bolsinha de mão. Todos da fila, olham para minhas mãos, pretas inclusive as unhas, os meus braços com pontinhos. E eu elegantemente, tiro o meu cartão sodexho alimentação para pagar a conta. Cara... como tá suja!