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sábado, 3 de novembro de 2012

Drink dionisíaco com o Liquidificador

Crítica de Mônica Vieira Braga


Se fosse possível atribuir uma idade ao Ultrarromantismo, ele seria um adolescente.
Isso porque se perceberia uma mente infantil, que quer tudo, na hora desejada, no local
em que se consolida a urgência e na intensidade máxima possível, dentro de um corpo de
um adulto, que viabiliza a realização de tantos quereres. Ainda bem que tudo isso fica na
adolescência, não é mesmo? Imagine viver nessa velocidade a vida inteira? Afinal, tornar-
se adulto é aprender a domesticar o desejo. Pois é, muita gente não se propõe a isso. Hajam
visto os escritores românticos do século XIX: transformaram o desregramento em objeto de
apreciação estética.

Foi com essa atmosfera que o grupo Liquidificador preparou um drink delicioso. O
ponto de partida para o espetáculo “Ultrarromântico” é a obra de Álvares de Azevedo, “Noite
na Taverna”, que fornece à montagem uma sustentação poética e uma aura de “tempos
antigos”, sem, contudo, engessar o trabalho da equipe. Esta se lançou no desafio de adaptar
algumas partes da obra para uma linguagem mais atual, tornando-a mais palatável, sem,
entretanto, tirar do público a possibilidade saborear a ambientação original da obra.

Todo o aparato cênico ajudou a elaborar ante aos olhos dos espectadores a expressão
máxima de todo o lado mais dionisíaco do ser humano. Afinal, realizar um espetáculo no
subsolo do Conic, com um figurino punk, cigarros, bebidas e cenas inteiras passadas em
cima ou no interior de um container de lixo é trabalho de muita entrega. Aliás, os atores se
mostraram muito capazes tanto na construção/desconstrução do texto de Azevedo, quanto
na proposição de ações cênicas que evidenciaram com clareza a compreensão da tônica
do movimento literário romântico: a liberdade. Na medida certa, sem cair no mau gosto,
protagonizaram cenas que não eram homoeróticas: as mulheres que se tocavam e os homens
que se beijavam não eram, na verdade, homens e mulheres, e sim, corpos entregues à lascívia.
Ponto para o grupo, que apimentou a composição sem torná-la difícil de digerir.

Para tornar a ação ainda mais concreta aos espectadores, o espetáculo continua
quando termina. Uma festa se desenvolve no próprio ambiente cênico e com a equipe. Se se
tornar adulto é aprender a domesticar os desejos, creio que voltei à adolescência no último
fim de semana, pois não estou controlando minha vontade de que chegue novamente o
sábado para que eu possa tomar outro drink com o pessoal do Liquidificador. “Taverneira!
Traga-me mais vinho!” Cheers, my friends!




Mônica Vieira Braga
licenciada em Língua Portuguesa e respectivas Literaturas pela UnB
professora de literatura há 12 anos na rede privada do DF

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

fotos festa ULTRA! RockXXX

Mais uma grande festa com muita gente feia e sujismunda como poderão ver. Adoramos! Queremos mais!

ULTRA! RockXXX






















NÃO PECAM A PRÓXIMA-ÚLTIMA FESTA DA TEMPORADA

ULTRA! MORTE
SÁBADO 03/11, SUBSOLO DO DULCINA- CONIC
APÓS O ESPETÁCULO ULTRA-ROMÂNTICO
$10 até 00H, $15 até 01h, DEPOIS $20

$15 a noite inteira para quem for fantasiado




domingo, 28 de outubro de 2012

Tudo no Liquidificador!


(Entrevista do Grupo Liquidificador para o site QUAL QUADRA)

Tudo no Liquidificador!

Quer conhecer um grupo de teatro visceral? Pessoas que querem viver de poesia, sem concessões ao fácil ou ao altamente comercial: assim é o grupo Liquidificador.

Usando linguagem forte e estruturados na boa literatura brasileira, fazem teatro questionador e peças que não terminam no ato final, mas numa festa temática. 
Conheça agora mais sobre o Grupo Liquidificador e entenda porque não dá para não conhecer essa mistura doce e ácida!
O Grupo Liquidificador nasceu da UnB com estudantes de 4 cursos diferentes e uma grande vontade de questionar. Falem mais sobre como surgiu e o que é o grupo. Que mistura é essa?
O Grupo Liquidificador surgiu por uma vontade de 7 jovens com formação em Artes Cênicas, Letras e Artes Visuais pela Universidade de Brasília, de fazer teatro, não somente isso, mas contribuir para o desenvolvimento social brasiliense através de um posicionamento artístico. Estamos em constante amadurecimento e nos construindo diariamente pautados sob uma perspectiva de abordagem colaborativa, sempre colaborativa. E essa mistura tem como resultado as nossas criações. Não somos um elemento apenas, mas vários, fundidos em um processo e um resultado. 
Numa época da explosão das comédias stand up, os temas e a linguagem de vocês são mais desafiadores. É difícil fazer esse trabalho mais pesado e pensado?

Trata-se de um trabalho diferente, apenas isso. Quanto ao desafio, sim é muito desafiador, adaptar uma literatura que está disseminada em um formato fixo. Colocar isto em cena em uma releitura é muito instigante. É isso que nos move. E move muito, constantemente e ininterruptamente. Mas tudo cabe neste nosso liquidificador, desde arte de vanguarda a novela das oito, do teatrão ao besteirol, do clown a tropicália. Acreditamos que a criação é livre e antropofágica, as referencias são infinitas para chegarmos no resultado estético pretendido. Para nós também seria um desafio fazer um espetáculo no formato de stand up, mas não foi este o caminho que nós escolhemos.

Vocês criam os textos e fazem experimentações - inclusive na linguagem. Como é o processo criativo em grupo e como e quando uma peça fica pronta?
Uma peça nunca fica pronta. Está em constante processo de criação, avaliação e adaptação, apenas em diferentes níveis. Depois de desenhada a dramaturgia, por exemplo, estamos em um nível diferente, após a estreia do espetáculo, estamos em outro. Mas nenhum deles é engessado. Hoje, indo para a quarta semana de apresentações, a peça pode sofrer alterações, pois a própria apreciação do publico já nos influencia. E quanto ao processo criativo, ele é realmente colaborativo. Todo mundo participa em tudo pra que o trabalho saia o melhor possível.

O que vocês consideram como a "esquina" de Brasília? 
A esquina do Liquidificador é o bar Moisés, da 208 Sul. Estamos sempre lá. Lá nos encontramos pra reuniões bêbadas filosóficas, reuniões sérias e burocráticas, bate-papos aleatórios e tudo mais. O engraçado é que tem mais uns quatro grupos de teatro da cidade que também freqüentam o local constantemente. Já temos até nosso nome de grupo como "homenageados" no cardápio!

Quais os grupos de teatro de Brasília vocês conhecem e admiram? 
Admiramos o trabalho de grupo e atuação política na cidade do Teatro do Concreto, e do Udigrudi por sua perseverança e beleza. E também temos "grupos amigos" como o LPTV e o Teatro Caixote. Acreditamos que a arte teatral brasiliense evoluiu muito nestes últimos anos, com a criação de tantos coletivos que buscam um trabalho continuado.
Sobre as festas do grupo: por que existem, como são, qual a próxima? Cada festa-peça (ou peça-festa) é muito diferente da outra?
É interessante explorar o universo que nos levou a montar uma peça que não termina, que continua em uma festa. Isso seria uma conversa para o dia inteiro. Mas, em suma, queríamos unir estes dois públicos em um só lugar de criação estética. Tem dado certo, os apreciadores de teatro têm frequentado as festas todos os sábados, praticamente, e os baladeiros da cidade, assistido a um espetáculo teatral, com um formato de festa. Elas são festas temáticas. Cada sábado uma festa com um convidado e um tema diferente. A penúltima foi ULTRA! LIBRE, com um dos DJs (o diretor do espetáculo) tocando com uma máscara de Lucha Libre.
Continuamos na festa em estado performático. Tem sido muito legal e as pessoas tem se divertido muito. Neste próximo sábado (dia 27 de outubro) teremos a Ultra! RockXXX, na qual os djs trarão um set roqueiro pra sacudir a ratoeira do Conic.
Vocês acham que existem espaços suficientes - em quantidade e qualidade - para o teatro e a cultura em geral aqui? Como veem a produção cultural na cidade?
Acreditamos que temos muitos espaços interessantes na cidade, mas, por outro lado, a manutenção deles deixa muito a desejar. Os grandes teatros da cidade estão em uma situação delicada. E quanto a cena cultural brasiliense, tem crescido vertiginosamente, com uma política de fomento horizontalizada do FAC, isso tem se tornado mais factível a cada dia. Além de vários outros fatores, evidentemente, as iniciativas têm sido cada vez mais elaboradas e o teatro de grupo que pesquisa, está em voga na cidade.

O Conic já foi tema de tese, debatido e cantado em verso e prosa. Como é usar um espaço alternativo e como tem sido a receptividade?
Usar o espaço do Conic para esta peça foi como colocar uma luva no tamanho exato da sua mão. Não enxergamos na cidade um espaço que case de forma tão adequada com a proposta estética escolhida. O lugar é uma taverna, a taverna que está como pano de fundo na nossa dramaturgia. E a receptividade, bem, não temos como mensurar muito, mas até onde sabemos e conversamos tem sido muito boa. As pessoas ficam impressionadas como fizemos um corredor virar um espetáculo polido. E tem os elementos do espaço, as baratas, por exemplo, que quase sempre frequentam as nossas apresentações, mas discretamente passam para suas casas, sem causar alvoroço.
O trabalho de vocês é muito diferente e passível de ser incompreendido. Já aconteceu alguma reação ou ação inusitada no meio de uma apresentação?
Sim, realmente já aconteceu. Em uma temporada de estreia de A Cartomante, um senhor levantou no meio da peça e foi embora e falou em alto e bom som: "eu achei que eu ia ver Machado de Assis" e foi embora. Estava em uma hora de interação da peça, quando ele falou isso. Realmente, o que vocês verão nos nossos espetáculos não é Machado de Assis, nem Álvarez de Azevedo, será o Liquidificador. As nossas leituras sobre estes autores, sobre os elementos que os compõem como ícones importantes da Literatura Brasileira. E sim, temos também na Cartomante, digressões, metalinguagens e ironias machadianas. Temos no ULTRA-ROMÂNTICO as histórias dos contos, as temáticas, a visão de um jovem escritor sobre o mundo que o cerca. Mas temos também, jogos, brincadeiras que "amolecem" tudo. Afinal, o publico verá teatro, não literatura em cena.

Quais são os próximos passos do Liquidificador?
Iremos continuar o nosso trabalho de pesquisa sobre Brasília e seguiremos com a nossa próxima montagem sobre Violência, antes de completar nossa trilogia literária que será finalizada com O Cortiço, de Aluízio Azevedo.

O que não dá para misturar nesse Liquidificador?
NADA, ABSOLUTAMENTE. Para os nossos processos de criação nos despimos de qualquer preconceito e alienação. Os ingredientes desta mistura são ilimitados, estamos abertos a quaisquer um deles. Entretanto, nesse processamento de elementos colocamos a nossa marca, leitura, impressão, etc. Isso é o processo de liquidificar e misturar os nossos  elementos pessoais, referências, literatura, brega, pop, kitsch, cult e por aí vai..

O dia seguinte...



E a noite teima em acabar. O sol tenta a todo custo se esgueirar pelas frestas desse corredor grotesco. Aqui são  8:34. Num domingo de culto, o corredor subterrâneo vira o esgoto de escoamento de água que limpam as calçadas. O domingo de sol. A prisão para os vultos da noite subterrânea. Só sobram os gritos acalorados dos fieis, dos ambulantes e crackeiros sobreviventes. Tudo ou nada... Prefiro começar assim... Talvez para você esta seja a melhor das cidades... O efeito ainda não passou e não sei se algo faz sentido... Como não sei se a peça faz ou fará algum sentido em toda essa tragetoria cidadã.










BOTA UMA CADEIRA AQUI PRA EU DESCER, QUE NÓS VAMOS RASGAR A BARRIGA DO MUNDO COM A UNHA!



Teatro para corações fortes


Teatro para corações fortes





“Ultra-romântico”, a peça do grupo Liquidificador que está em cartaz no subsolo do Conic, não é para principiantes.
Baseado no livro “Noite na taverna”, de Álvares de Azevedo, a peça propõe uma releitura moderna, punk e revolucionária daqueles valores intensos todos que a gente se lembra vagamente de ter aprendido quando estudava a segunda fase do Romantismo, lá nos idos do segundo grau. A escola de morrer cedo, lembra?, também chamada de ultra-romântica. Vem daí o nome da peça.
Viver o momento, a paixão, a intensidade romântica que flerta sempre com o limite da morte, com o proibido – tudo isso temperado pelo hedonismo das longas e lascivas noites passadas nas tavernas. Só que o ultra-romantismo brasiliense é ultra-contemporâneo, ambientado em uma noitada underground com punks, música eletrônica, drogas, bebidas baratas e uma proximidade quase real da marginalidade urbana.
Esta fronteira, aliás – o que é teatro?, o que é real? – foi para mim uma das muitas experiências bem-sucedidas da peça. É você que entra em cena, e não os atores – e eles estão sempre muito perto, transformando você de público em testemunha, em quase cúmplice. A tal ponto que, depois da encenação dos sábados, a peça se transforma em festa e de repente estamos todos curtindo juntos – e nada parece mais natural.
Porque é bem fácil sentir-se num inferninho de verdade estando numa peça-festa no Conic, com baratas (bem reais) que esbarram nos pés dos atores, a música, as luzes, o ritmo de muitas das nossas baladas contemporâneas. Tempere-se tudo isso com um pouco de marginalidade, crack e os amores letais que costumam surgir desta mistura e, quem diria?, a escola de morrer cedo fica tão contemporânea.
Com música e vídeo produzidos no calor das emoções, além de um elenco talentoso e completamente entregue ao enredo, a peça testa muitos outros limites: o antigo e o moderno, o cool e o brega, o amor e o ódio, a vida e a morte, o medo e a sedução, a fronteira entre os gêneros.
Almas sensíveis, abster-se. Para todos os outros, é a oportunidade de ver teatro de verdade, forte, underground e desavergonhadamente brasiliense.


Bora?
Já fui e, se bobear, vou de novo.
Sextas, sábados e domingos até 4 de novembro de 2012
Subsolo do Conic (entrada pelos fundos, ao lado das lojas de doces)
Sextas e sábados, às 21h, e domingo, às 20h
R$ 20, 00 (inteira)/ R$ 10,00 (meia)
O site da peça é por aqui.