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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Rituais de Sofrimento




Inofensivos programas de entretenimento televisivo poderiam ser considerados rituais de sofrimento?

Consideremos aqui jogos competitivos em que participantes se submetem a TUDO para vencer como rituais de sofrimento. Tais rituais e mecanismos de dominação estão em vários produtos televisivos da indústria cultural brasileira, com especial atenção ao maior deles, o Big Brother Brasil, no ar há treze anos. Também podemos abranger programas e filmes de Hollywood que perpetuam a mesma lógica brutal. Assim como no BBB, o assassino Jigsaw da franquia Jogos Mortais, por exemplo, não almeja a morte/eliminação de suas vítimas: ele quer que elas sobrevivam. Mais que isso, que sobrevivam a qualquer preço. 

Para além dos inúmeros recordes acumulados pelo programa Big Brother Brasil, é digno de atenção o espírito que, ao longo de três meses anuais, toma o público. A disputa hipnotiza as cidades como um espectro: sem entender como, sabemos nomes e acontecidos, o programa toma o ar e sufoca. É onipresente; está em todas as mídias e em todas as conversas; suscita contendas nos ônibus e táxis. Mas é na internet que o comprometimento do público toma corpo: sites, grupos de debate, blogs, salas de bate-papo, tuitagens, comunidades virtuais e campanhas inflamadas para a eliminação de fulano ou beltrano proliferam e deixam o rastro do dinheiro, trabalho e tempo oferecidos gratuitamente ao show de horror. Em espaços de reclusão, que pela própria dimensão já inspiram pesquisas acadêmicas, é unânime o desejo do embate feroz entre os aprisionados. Neles, impera o princípio muito bem formulado pelo organizador da rinha: importa muito mais a queda que a salvação. 


Não lidamos aqui com um ritual como outro qualquer, não se trata de uma festa ou do consumo, ambos cerimoniais oferecidos aos deuses do prazer. Trata-se de algo mais perturbador, pois o que se vê nos reality shows é a proliferação de rituais de sofrimento. 


Quais são as molas que movem esse lado fake e nem por isso menos real do mundo em que vivemos? Onde estão as roldanas que dirigem as cordas, quem são as figuras que elas agitam, como o conjunto se fecha sobre si mesmo sem deixar lacunas? 

Apesar de permanecer na sociedade o debate em torno de um de seus discursos de origem, o mote do espetáculo da realidade (reality show) e seu maior apelo junto aos telespectadores é a concorrência, não o voyeurismo. É esse o fundamento que atrai o nosso olhar, pois é o fundamento de nossa reprodução social. 

O princípio violento do BBB não é oculto, pelo contrário, o próprio programa faz questão de afirmá-lo constantemente – e funciona inúmeras vezes como propaganda – ao enfatizar o caráter eliminatório e cruel do jogo. Cada edição impõe a seus participantes situações mais árduas. Não é um jogo de quem ganha. É um jogo de eliminação. Esse saber generalizado, no entanto, não impede que uns se submetam e outros castiguem, nem que aqueles que se submetem também castiguem. Pelo contrário, a participação é a pedra fundamental do espetáculo. Mais que a aceitação passiva desse princípio nem um pouco subjacente, o programa conquista o engajamento ativo, frequentemente maníaco, nessa engrenagem de fazer sofrer.

Big Brother é um jogo cruel, em que o público decide quem sai. Ele dá o poder de o cara que está em casa ir matando pessoas, cortando cabeças. Não é um jogo de quem ganha. Para o cara de casa, é um jogo de quem você elimina.


A dificuldade de se escrever a respeito da ideologia hoje é que para o juízo bastaria a descrição, mas essa já não o (co)move. Se uma pessoa se mostra crítica ou mesmo condoída diante do sofrimento que se avoluma nesse tipo de programa de TV, a ela caberá a pecha de idiota (ou invejosa!). A dominação se mostra a céu aberto em dia claro, sem que se renuncie à sua prática. Todo discurso a respeito de justiça, liberdade, igualdade e até mesmo bondade é descartado com virilidade em nome de uma dura realidade. 
Não são poucas as vezes em que é colocado o problema do sofrimento ao qual são submetidos os participantes e a resposta é: “Mas foram eles que se voluntariaram”. Uma das ideias centrais que sustentam o estado de direito é a da inalienabilidade: não se pode abrir mão da dignidade, por exemplo, mesmo que se queira. Em tese, nenhum contrato assinado pelos participantes de reality shows poderia ser válido em qualquer lugar no qual a democracia e os direitos humanos vigoram. E o problema jurídico posto por essas produções não responde sequer ao paradoxo dos direitos humanos colocado por Hannah Arendt, segundo a qual tais direitos só podem ter vigência quando levados a cabo pelos estados nacionais, ou seja, os apátridas não os têm. Os participantes são cidadãos brasileiros, alemães, norte-americanos, holandeses, argentinos e um longo etc. A vida à disposição da produção de entretenimento a que se assiste em reality shows é um índice mais do que transparente de que vivemos em um estado de exceção permanente, pulverizado e onipresente.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Requinte...





terça-feira, 15 de abril de 2014

Ditando o clima.

Algumas obras da televisão contemporânea têm aberturas que são verdadeiras preliminares, deixam o espectador aquecido pra ação que vem na sequencia. Brincando com o clima de tensão e te seduzindo pro tópico a ser tratado, algumas vezes o capitulo em si deixa a desejar em relação a esse primeiro minuto de exibição.


vejam também a de True Detectives que o youtube não me deixa incorporar 


Essas pra mim são, nesse aspecto -expectiativa/tensão-, as que mais me afetam.
Deixei alguma imperdivel de lado?

Afectos - Primeiro Ensaio


Iniciamos os ensaios práticos de nosso novo espetáculo (ainda sem nome, por enquanto AFECTOS).

Muita coisa por vir... Aí vai um clipe sobre nosso passeio no parquinho:







segunda-feira, 14 de abril de 2014

SUPER SÓ

"Era uma manhã qualquer. Eu estava no balcão de uma padaria esperando sair o meu pão na chapa e meu café com açúcar. Enquanto isso, lia ao comics do Homem Aranha. Eu sempre fui fã dos super heróis. Lanterna Verde, Tocha Humana, Besouro Azul, Batman... E, claro, Mulher Maravilha.

Quando sentou-se ao meu lado uma mulher estranha. Percebi seu olhar curioso sobre mim.
Apesar de gostar de conversar com estranhos, preferi ignorá-la.

De repente, senti um sopro frio na minha nuca e como num passe de mágica, todos haviam desaparecido da padaria. O espremedor de laranja, antes frenético, calou-se. O silêncio era sepulcral. E eu lamentei que meu pãozinho ainda não tivesse chegado. Além de mim, apenas aquela ao meu lado.

Foi, então, que me virei e me deparei com dois olhos azuis muito frios  que me fitavam. E, então, ela falou:


'Super

Super Só
Prazer em conhecer
Eu sou Super Só

Eu tenho super poderes
Eu posso transformar
Uma noite quente
Num mergulho vazio

Posso transformar
Uma viagem romântica
Num passeio insólito

Posso transformar
O seu namorado
Numa estatua de gelo

Porque eu sou Super

Super Só
Prazer em conhecer
Eu sou Super Só

Eu tenho super poderes
Eu posso trasformar 
A sua voz macia
Num uivo longínquo

Posso transformar
A sua infancia
Num tubo de ensaio

Posso sumir 
Com seus amigos
No seu aniversário

Eu sobrevôo as multidões
Posso te levar... comigo

Super
Super Só
Prazer em conhecer
Eu sou Super Só

Eu tenho super poderes
Eu posso transformar
Os seus últimos dias
Numa folha em branco

Posso transformar 
A sua amante 
Numa boneca inflável

Posso guardar 
A sua alma
Numa embalagem a vácuo

O meu escudo te protegerá
De todo calor... humano

'"

SUPER SÓ
uma canção de Miriam Virna