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segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma Noite de Amor com Marlon Brando - Parte II

E me levando, e me levando em direção à escada. E acariciando minha mão e me levando até a escada. E me fazendo elogios e acariciando minha mão, Marlon Brando disse-me coisas tão vagas como ao que vem abaixo. Não exatamente o que se diz, mas perto da atmosfera que se instaurou. Marlon Brando me aconselhava sobre os perigos humanos e suas atitudes carnais.

Marlon Brando,
"Falando assim, tinha-lhe tomado as mãos e afagava-as.
- Olhe, continuou, acariciando-o sempre; não se meta com donzelas, entendeu?... São o diabo! Por dá cá aquela palha fica um homem em apuros! Agora quanto às outras, papo com elas! Não mande nenhum ao vigário, nem lhe doa a cabeça, porque, no fim de contas, nas circunstancias de D. Estela, é até um grande serviço que lhe faz! Meu rico amiguinho, quando uma mulher já passou dos trinta e pilha a jeito um rapazito da sua idade, é como se descobrisse outro em pó! Sabe-lhe a gaitas! Fique então sabendo de que não e só a ela que você faz o obséquio, mas também ao marido: quanto mais escovar-lhe você a mulher, melhor ela ficará de gênio, e por conseguinte melhor será para o pobre homem, coitado! Que tem já bastante com que se aborrecer lá por baixo, com seus negócios, e precisa de um pouco de descanso quando volta do serviço e mete-se em casa! Escove-a, escove-a! Que a porá macia que nem veludo! O que é preciso é muito juizinho, percebe? Não faça outra criançada como a de hoje e continue para adiante, não só com ela, mas com todas as que lhe caírem debaixo da asa! Vá passando! Menos as de casa aberta que isso é perigoso por causa das moléstias; nem tampouco donzelas! Não se meta com a Zulmira! E creia que lhe falo assim porque sou seu amigo, porque o acho simpático, porque o acho bonito!
E acarinhou-o tão vivamente desta vez, que o estudante, fugindo-lhe das mãos, afastou-se com gesto de repugnância e desprezo, enquanto o velho lhe dizia em voz comprimida:
- Olha! Espera! Vem cá! Você é desconfiado!..."

Trecho extraído do romance de Aluísio Azevedo, "O Cortiço".
O senhor é o Botelho e o rapaz Henrique.
Páginas 36/37 da Editora Martin Claret, 2003

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