Ontem, perto da abertura das portas do teatro Adolfo Celi para mais uma sessão do espetáculo Mundaréu da Cia. 2 Tempos, do qual eu estou operando a Luz. A Alice Stefânia, que é quem assina a direção do espetáculo, propôs um aquecimento energético para o grupo, para que estes pudessem se conectar aos seus personagens e etc. Lá de cima, da "cabine de luz", me bateu um desejo repentino de fazer o exercício junto com elenco. Perguntei se podia, e já fui descendo as escadas, tirei os sapatos e fiz o exercício como quem estava se preparando para entrar em cena.
Logo que acabou, voltei para o meu posto, já coloquei a luz de inicio do espetáculo, e pensei que "mas, eu não vou entrar em cena?".
E aí, me veio a idéia desse post.
Me senti no direito de fazer o aquecimento, porque tanto quanto aqueles bravos atores, eu dali a 5 minutos também entraria em cena. E não podia deixar a bola cair. Meus diálogos com eles se davam a cada acendida de foco, a cada apagada de luz, a cada troca. Eu estava em cena, dentro do espetáculo, tanto quanto eles. É ISSO! EUREKA, eu diria, se outras mil pessoas já não tivessem dito isso.
Uma coisa interessante, legal, empolgante, do processo do Afectos, é que eu, fisicamente, estarei presente dentro do espetáculo. Caminhando pela casa, acendendo e apagando as luzes, sabendo de cada detalhe, de cada cena, para que a luz, eu, e todos, estejamos ali respirando o mesmo ar. Estar presente desde o primeiro ensaio, e acompanhar o crescimento, nascimento, entendimento de todos sobre tudo, é também, colocar cada vez mais a luz em cena. Deixar de lado esse estereótipo da iluminação como um "manto sagrado", que só começa a fazer parte do espetáculo apenas no dia de sua estréia. Fazer parte, como iluminadora, desde o inicio me dá material, massa, cimento, e tijolo para que essa iluminação comunique tanto quanto palavras, para que ela expresse tanto quanto um rosto, para que, se fisicamente eu estarei presente, a luz também esteja.
Sempre desejei fazer parte de um processo assim,
e eu espero, que esse seja o primeiro de muitos.
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