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quinta-feira, 21 de março de 2013

PESSIMISMO É DE MORTE! Desesperancia – palavras de desespero, sem expectativa, sem frustrações, sem dor, com violência, com ânsia.




Saber de si pode ser violento porque falar de suas descobertas sobre si e ser desqualificado é muito mais violento ainda.

É de bom tom não falar muito sobre si. Primeiro porque não é assunto que dure, francamente. Depois porque não interessa tanto assim ao outro. Verdadeiramente não. O pessimismo neste caso está tão próximo da realidade, quanto o otimismo do desespero. Quem fala, fala, fala de si não será perdoado pelos ouvidos alugados. Não se iluda, apenas se toque.

Quem se importa com suas descobertas pessoais interiores verdadeiramente, sem pegar sua fala e transformar em um exemplo pessoal para roubar o foco, com verdade  e generosidade legítimas, já morreu. Não nasceu. Nem existiu.

Saber que você será sempre a segunda pessoa para o outro (se tiver sorte...), que a única pessoa para quem você é prioridade máxima é pra você mesmo é bastante desolador. Sua história triste tão interessante é só sua. “Só o prazer é compartilhável, a dor é individual.” Pessoal, intransferível... Como a morte.

Há um tempo em que o sujeito precisa saber identificar o que é amizade e o que é condescendência. Ou saber que ambas são uma mesma coisinha. O homem é um bicho só e social. A mulher também. Se você não é capaz sozinho não será capaz de maneira nenhuma. Há quem não consiga olhar para si no espelho profundamente sem sentir medo. Há quem não consiga olhar para si no espelho e dizer: Eu sou fulano de tal. O espelho não é seu amigo e tampouco será condescendente.

A solidariedade é uma coisinha inventada pelo sistema capitalista para engambelar os pobres e salvá-los da extinção. Assim como a honestidade. Só se aplica a eles mas tem rico que cai às vezes. O amor não. O amor é outra coisa. Se você sente machuca, se o outro sente ele que se foda e vive versa.

Ainda há uma hipótese remota sob a chuva, escorrendo para alguma boca de lobo, sobre sua tendência em achar que neste momento alguém pensa em você. Você pode acreditar nisso ou tomar alguns comprimidos. Importante saber que ninguém quer saber da sua porção dor e da sua porção euforia só aos fins de semana com álcool e som automotivo no estacionamento do super. É por fim um soco no estômago libertador.

Pois eu gostaria de ser extremamente inconveniente, agora que todos estamos livres para não nos importamos mais com ninguém, sem formalismos instituídos. Serei agora inconveniente e despejarei aqui as minhas mais novas descobertas pessoais totalmente desinteressantes. Vou ferir sua integridade moral contando aqui agora, com todas as palavras, nos mínimos detalhes minha experiência pessoal, quando colocada frente a frente com outra pessoa, fui confrontada com a seguinte pergunta:

QUEM É VOCÊ QUE ESTÁ AÍ DENTRO NESTE MOMENTO? choro convulsivo durante 40 segundos.

Eu sou um balão eu sou uma enxurrada eu sou uma panela vazia eu sou um girassol eu sou mãe eu sou confusão eu sou som alto eu sou frágil eu sou agressiva eu sou água de torneira eu sou borboleta eu sou tubarão eu sou você que me fita eu sou ontem eu sou destruição eu sou panela cheia eu sou banana madura eu sou experiências eu sou cor de rosa eu sou murcha eu sou pipa eu sou urso polar eu sou egoísta eu sou lágrima eu sou filha eu sou meu carrasco eu sou raiva eu sou lápis de cera eu sou brigadeiro de colher eu sou perdão eu sou azia eu sou o fim da picada eu sou perfumada eu sou girassol...

E aí acabou o tempo. Agradeci a quem me ouviu porque me pediram. Mas foi de coração. A dor é de cada um, só. Mas a poesia cura.


Ana Tirana
 

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