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domingo, 25 de junho de 2017

Dramaturgia do Pop-Up - TecnoMagia







“O jardim de caminhos que se bifurcam” é um dos contos de Jorge Luis Borges que liberta a linearidade de algumas estruturas narrativas estabelecidas, a história do conto é apresentada cheia de alusões e associações dentro dela, como se fosse um labirinto narrativo ao nível do tempo e do espaço. Uma narrativa que abre outra, que abre outra e assim por diante, como uma estrutura de bonecas russas que se englobam uma dentro da outra. Este conto foi uma primeira inspiração para estruturar a dramaturgia do TecnoMagia. Por mais que, a cada dia de apresentação, aconteçam novas cenas e configurações improvisadas, a estrutura literária deste conto do Borges nos inspira a abrir janelas infinitas. Histórias cruzadas. Janelas, que abrem janelas, que abrem janelas, como quem navega num browser da internet (chrome, mozilla, safari etc). Um labirinto de narrativas que se concretiza em cena, nos objetos, nos efeitos de luz e som, nas relações entre público e perfomers e no próprio espaço da galeria. Quando pensamos a dramaturgia deste espetáculo, pensamos espaço e tempo, pensamos com o corpo em ação na cena. Textos não são apenas letras num papel.


 “Deixo aos vários futuros (não a todos) o meu jardim de caminhos que se bifurcam.(…) infinitas séries de tempos, uma rede cresecnte e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos. Essa trama de tempos que se aproximam, se bifurcam, se cortam ou que se ignoram, abrange todas as possibilidades.” Este jardim do conto de Borges trata do tempo como espaço, dos percursos escolhidos para seguir, das possibilidades de futuros e das aberturas de outras dimensões/realidades paralelas, atributos que hoje conhecemos tão bem em narrativas de séries como Lost ou Black Mirror. Histórias que se cruzam, outras que se encerram de repente, outra que se corta e cola mais adiante, tudo muito conectado com nossos cotidianos de aplicativos e redes sociais.
Porque Pop-up? Imagine a utilização de um celular hoje em dia: abre-se a janela do app do Instagram, histórias e imagens pulam na sua frente. Fecha-se o instagram, abre-se a janela do facebook, histórias, textos, imagens, vídeos, tudo passando rápidamente diante de seus olhos. Abre-se o wattsapp, áudios com narrativas mais íntimas e cotidianas passam por você. Todo este trajeto dura por volta de dois minutos. Muitas histórias e assuntos, caminhos e narrativas que se bifurcam a cada segundo, a cada nova janela de informação. Janelas, janelas, janelas, janelas, janelas... Pop-ups. Um infinito de possibilidades de aberturas. Uma dramaturgia aberta que se transforma a todo momento, a cada nova mudança da configuração do presente.


TecnoMagia é um espetáculo que acontece no improviso, o texto e as imagens são construídos pelos atores (ou atletas afetivos) no momento da cena, diante do público. Um rito que é conduzido por três performers e que necessita do público da sessão para tirar na sorte as cartas do dia. O jogo acontece da seguinte forma: Temos doze cartas de figuras mitológicas pesquisadas para o universo deste trabalho, O Outro, O Monstro, Ciborgue, Fake, Troll, Xamã, A Inteligência Artificial, Stalker, Vidente, Hacker, Chullachaki e A TecnoMagia, destes arcanos serão tirados três por dia apenas, o que influenciará nas temáticas e nas janelas de imagens que se abrirão. Apesar de texto e imagens postas em cena estarem improvisadas, nós temos uma estrutura de jogo que vai se repetindo igualmente todo dia, daí a explicação de a dramaturgia se inspirar na estrutura do conto de Borges e nos pop-ups de computador. Os temas e narrativas são apresentados ao público e entram em portais (ou pop-ups) que voltam ou não aos temas do início, depende por que caminhos a improvisação dos atores/performers (atletas afetivos) e a presença do público da sessão levará. A dramaturgia dos portais que se bifurcam. 


O Grupo Liquidificador propõe com este trabalho uma experiência sensorial para o público, uma vivência relacional, recolocando na cena contemporânea o que o teatro tem de mais potente: O encanto da presença de um ser humano de frente para outro ser humano. O importante é o encontro e não o “Artist is present” midiático. Mais do que contemplação, a pretensão é provocar no público uma relação. Os temas vão percorrendo corredores e pátios, por mundos distópicos, realidades aumentadas ou vivências espirituais, as narrativas se fragmentam e recompõem-se a todo tempo, como um diamante refratário de luz. Desde encontros com seu outro no espelho à luzes em finais de túneis que metaforizam o clichê da morte. Aguardamos ansiosos o público pra completar este mágico processo de dramaturgia relacional.






Obs: Toda a concepção de dramaturgia do espetáculo está sendo feita por Fernanda Alpino, Fernando Carvalho e João Quinto.


Imagem 1: Labirinto de Chartres
Imagem 2: Labirinto de Saint-Quentin
Imagem 3: Pop-ups diversos 
Imagem 4, 5 e 6: Garden Parterre - DeZallier d'Argenville

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