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terça-feira, 15 de maio de 2012

Posso Trabalhar?

Hoje em dia, apenas hoje em dia, depois de dois anos ensaiando e apresentando "A Cartomante" é que eu(Kael) não sofro mais com este espetáculo. Por carregar uma encenação muito performática, ou seja, cheia de improvisações e jogos com o público, a dificuldade de casar marcas e textos decorados junto com os imprevistos de uma platéia participativa, levaram um tempo enorme de maturação de certas técnicas. Hoje, acredito ter saído de uma infância imatura desse jogo, pra um caminho bacana e SEM TANTOS SOFRIMENTOS. Mas o sofrimento não tirou o lugar da concentração, da energia e do foco, que sempre estiveram lá (na cena) em todos os momentos.

O trabalho artístico ainda é intenso, mas o sofrimento agora é outro. Pra apresentarmos com dignidade, precisamos antes nos humilhar ao sistema. Sim! Humilhar! O TEATRO É O MEU TRABALHO, É O MEU EMPREGO, É O MEU SUSTENTO. Para podermos chegar aos palcos precisamos entrar profundamente em um trabalho burocrático que, na maioria das vezes, é extremamente incerto: OS EDITAIS


VÍDEO QUE REFLETE O SENTIMENTO PERANTE A UM EDITAL


Perdemos, ou ganhamos (não sei) muito tempo concebendo um projeto bem feito, que seja pagável, que seja patrocinável. Temos a todo instante quebrar a cabeça pra juntar algum mérito cultural com algo que seja vendível, tentando não se render ao mercado negro, tentando manter a essência. Ok... É justo que saibamos falar de nossos trabalhos, para que, em palavras, ele seja descrito de forma que saibam que realmente é um extraordinário trabalho. Mas, e o tempo que gastamos pra lidar com as burocracias? E o tempo que poderíamos usar pra trabalhar nos nossos espetáculos?

Patrocínio se parece mais com um prêmio de consolação. Parece que não temos direito de ser pagos pelo nosso trabalho. Parece que não merecemos.

Ok. Sobrevivemos aos editais, aos patrocinadores, aos apoiadores. Eles são sempre bem-vindos.

E o SATED? E o ECAD? O que fazemos com eles? Temos que pagar pra trabalhar! E tudo isso pra que? PRO NOSSO DINHEIRO SER AUTOMATICAMENTE TRANSFORMADO EM PUTAS E COCAÍNA. 


"Me desculpe por fazer o meu trabalho. Mas, o senhor, grande senhor uruguaio, poderia humildemente me conceder a cortesia de autorizar meu Grupo a apresentar nosso espetáculo? (...) Ah... Em dinheiro é mais barato?"

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O Grupo Liquidificador foi obrigado a pagar para apresentar um espetáculo com ENTRADA FRANCA.
Ao SATED DF, para que atores pudessem subir aos palcos, foi entregue X em cash nas mãos do Secretário Executivo, que foi direto pro bolso da calça jeans. Digo, "AO SATED".
Quanto ao ECAD, dinheiro que poderia dar mais qualidade ao material artístico do Grupo foi entregue a não-sei-quem(ns), porque todos sabemos que pra outros artistas que merecem esse dinheiro não vai.
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Enquanto isso, eu, quanto artista, não poderia ser de outra forma. Eu jamais conseguiria ser de outro jeito. Não com alegria, não com gozo, jamais com entusiasmo de outro jeito. Eu não tenho escolha. Aposto que outros também não têm. Tentamos é sobreviver às escolhas de poderosos patifes brasileiros.

Adeus. Eu tenho mais o que fazer.

Google Imagens: TO BRAVO
Escolha uma


EU ESCOLHI ------>




6 comentários:

  1. Isto é muito sério! Se nós não nos organizarmos políticamente, nunca teremos uma cena teatral brasiliense que possa continuar progredindo. O SATED (sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversões) de nossa cidade é coordenado por dois senhores que foram empossados nos anos 80, no período do governo militar, para auxiliar os censores de textos e espetáculos de Brasília. Um sindicato, que teoricamente serviria para nos auxiliar juridicamente, apoiar a classe e incentivar o crescimento de oportunidades de trabalho, está simplesmente jogado as traças, num escritório-muquifo do setor comercial, coordenado há quase TRINTA ANOS pelas mesmas pessoas. Abuso de poder? Isso é pouco perto do que aquelas pessoas são capazes, perguntem a Maria Padilha do Grupo Mapati o que fizeram a ela. É um ciclo vicioso, quanto mais estes senhores dificultam a retirada de nossos registros profissionais (para que possamos estar de acordo com a lei vigente no país para nossa profissão), menos pessoas podem votar em uma nova diretoria, pois apenas sindicalizados podem votar num sindicato, não é mesmo?

    Ai você se pergunta, o que eu, estudante de Artes Cênicas tenho a ver com isto?

    Todo o espetáculo que é apresentado nesta cidade ou em qualquer cidade, precisa da liberação do sindicato comprovando que você é realmente um profissional da área. A famosa DRT. Caso você não tenha uma DRT e quer se apresentar, deve pagar uma linda taxa para um "liberação especial" que o sindicato emite para que você possa "trabalhar numa profissão que não é sua". Caso você tenha DRT deve pagar uma "módica quantia" para contribuição sindical, afinal eles te protegem!

    E pra onde vai todo este dinheiro? Vejam bem, não é pouco dinheiro por ano... não é pouco mesmo!!! Tem gente enriquecendo a custa dos artistas, das peças, dos festivais de teatro e dança, dos desfiles de moda etc desta cidade, sem ter que suar uma gota no rosto. MAS É TUDO AMPARADO PELA LEI!!! O Grupo Liquidificador teve de pagar uma baba para apresentar A Cartomante, que está em cartaz com entrada franca! E este dinheiro foi pro bolso de um Uruguaio nojento que provavelmente muitos de vocês conheçam ou vão conhecer um dia!! Temos que nos informar sobre isto urgente se quisermos evoluir como classe. E somos jovens e universitários, nós que podemos mudar algo!

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  2. Bom dia,

    Sou o João Miguel GOnzaga, estudante de artes e gostaria realmente de saber o que podemos fazer.
    Poderiamos marcar alguma reunião para discutirmos isso! NÃO PODEMOS DEIXAR OS NOSSOS SONHOS DE ARTISTAS IR POR ÁGUA ABAIXO!!!

    Atenciosamente,

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  3. Olá pessoas. Eu proponho nque a gente sente e discuta "saídas" para isso tudo. Esse senhor que é presidente do Sindicato está nesse cargo desde a década de 1980 e só não saiu de lá por culpa nossa, artistas de teatro do DF que nunca nos mobilizamos realmente para tirá-lo de lá. Se os sindicalizados exigirem uma assembleia geral e determinarem uma intervenção, acaba esse tormento. Se o Estatuto do Sindicato estiver favorecendo essa espécie de ditadura, entramos com uma intervenção por meio do Ministério Público. O que eu estou dizendo é que NÓS TEMOS QUE FAZER ALGO. Enquanto ficarmos apenas reclamando, nada será solucionado. Que tal marcarmos uma reunião com as pessoas que nós conhecemos e que estão sindicalizadas aqui no DF?

    William Aguiar

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  4. Estou dentro da mobilização. Assim que quiser agendar. Estarei presente. Algo realmente precisa ser feito.

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  5. Eai, Grupo Liquidificador? Vamos fazer algo?

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  6. Dia 04 de junho nos reuniremos às 19h no departamento de Artes Cênicas para discutir uma primeira ação contra este sindicato (SATED) corrupto! Quem pode comparecer? Se vc é ou quer ser, ator, diretor, palhaço, dançarino, iluminador, cenógrafo, figurinista etc. e quer ter um sindicato que te defende e não que te explora, vamos participar dessa conversa!

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